Seminário reúne pais, professores, intérpretes e alunos para discutir os direitos sociais e educacionais dos surdos

15. outubro 2014 | Escrito por | Categoria: Câmpus Araranguá, Câmpus Criciúma, Eventos, Matérias

seminario1A região formada pela Associação dos Municípios da Região Carbonífera tem cerca de seis mil surdos. Apesar do número elevado, ainda são poucos os que conseguem garantir com que seus direitos sejam assegurados, principalmente, os relacionados à educação. Para discutir esse e outros temas, o Núcleo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) dos câmpus Criciúma e Araranguá organizaram o primeiro Seminário de Educação e Inclusão de Surdos. O evento, que foi realizado nos dias 10 e 11 de outubro, reuniu cerca de 70 pais, professores, intérpretes de Libras e surdos.

A palestra de abertura foi com Audrei Gesser, professora da UFSC e especialista no Ensino de Libras. “A Libras não é uma linguagem universal, assim como qualquer outra língua viva, ela tem seus regionalismos. Ela não é também só mímica, há uma gramática e é importante que os professores a conheçam. Eu considero importante que todos os cursos de Licenciatura no Brasil tenham como disciplina obrigatória o ensino de Libras”.

Sônia Regina Rabelo Alves é especialista em educação especial e durante o Seminário deu um relato de quem atua há mais de 20 anos para a inclusão dos surdos. “Eu tenho um filho que é surdo e o diagnóstico de surdez dele foi tardio. Eu não medi esforços para trabalhar para o desenvolvimento dele. Hoje ele faz faculdade, mas foi só a partir do quarto semestre que a universidade contratou um intérprete de Libras, antes disso eu tinha que ir a todas as aulas para ser a intérprete dele”.

seminario8Ramon Silva da Cunha, intérprete de Libras e professor da Universidade Federal do Rio Grande falou sobre a importância de ter intérpretes em todas os níveis de ensino. “Nós temos no Brasil, segundo o IBGE, cerca de 347 mil surdos, sendo que 10 mil deles moram em Santa Catarina. Segundo esse mesmo levantamento há pouco mais de três mil professores de Libras, o que é pouco para atender esses alunos. É preciso ampliar o número de intérpretes no Brasil”.

Uma das grandes referências em inclusão de surdos na educação é o Câmpus Palhoça do IFSC, que é bilíngue. “Todos os servidores do Câmpus Palhoça, de professores a técnicos administrativos, sabem Libras e toda a nossa infraestrutura é voltada para o atendimento de surdos. Isso é um diferencial que tem contribuído e muito para a permanência e o êxito dos surdos nos cursos oferecidos”, explica Samanta Casagrande da Silva, assistente de alunos do Câmpus Palhoça do IFSC.

seminario3Além das palestras e mesas-redondas, durante o evento houve uma série de apresentações culturais. Quem viu a jovem Evellin Domingos Vieira dançando pode não ter percebido que ela não ouve. Ela aprendeu a dançar com tanta destreza apenas sentido a vibração da música. “Eu sempre gostei de dançar e me especializei em sentir as vibrações mais graves das músicas, com isso eu elaborei a coreografia em que eu danço sozinha e faço movimentos robóticos”, explica a adolescente.

seminario4A Associação dos Surdos de Criciúma também deu um show. Eles apresentaram um coral de surdos em que as músicas eram interpretadas em Libras e fizeram a apresentação de uma peça que retrata um pouco da dificuldade que eles enfrentam, principalmente, para estudar. No espetáculo, eles contaram a história de um menino que teve o diagnóstico de surdez tardio e as dificuldades para que ele fosse alfabetizados.

Carta-documento

Ao final do Seminário, os participantes se reuniram para elaborar uma carta-documento que será entregue para as prefeituras da Associação dos Municípios da Região Carbonífera (Amrec) e para as prefeituras de Araranguá e de Palhoça.Uma das propostas é que o exame da orelhinha, que pode detectar a surdez ainda em bebês, seja obrigatório e feito nos recém-nascidos assim como é o teste do pezinho. “Hoje há uma normativa da prefeitura de Criciúma que exige que o teste da orelhinha seja feito em até 28 dias nos recém-nascidos, mas na prática não é isso que acontece. Muitos pais saem do hospital sem que o exame seja realizado. Nossa proposta é que quando a surdez for identificada, a Associação de Surdos seja avisada para que comece um trabalho de acolhimento da família”, explica Julia Clasen, coordenadora pedagógica do Câmpus Criciúma e uma das organizadoras do evento.

seminario7Durante a assembleia em que foi redigida a carta-documento, os participantes ainda expuseram a preocupação com o possível fechamento da Escola Polo Bilíngue que hoje funciona dentro da Escola São Cristóvão. “Como as crianças irão aprender Libras se não existir uma escola polo? Se ela for realmente fechada nossa proposta é encaminhar um pedido para que a prefeitura de Criciúma crie uma escola polo bilíngue, porque a que funciona hoje é mantida pelo Estado”.

Outra proposta levantada na carta-documento é que seja realizado um trabalho junto à Associação de Surdos para que eles façam, de fato, o acolhimento dos pais de crianças surdas. “Nós temos observado que os pais de crianças surdas ficam muito perdidos, principalmente, até os seis anos de idade da criança e nós precisamos organizar um trabalho de apoio”.

A coordenadora pedagógica do Câmpus Criciúma conta que serão realizadas no IFSC capacitações para os membros da Associação de Surdos e que há uma proposta de oferecer, em 2015, cursos de Libras nos níveis básico, intermediário e avançado para os pais de surdos através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec).

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