Dia da Mulher: Formação auxilia no empoderamento de mulheres em vulnerabilidade

8. março 2016 | Escrito por | Categoria: Câmpus Criciúma, Câmpus Florianópolis-Continente, Câmpus Gaspar, Campus Xanxerê, Matérias

O Brasil está entre os dez países com maior número de homicídios femininos, conforme a Organização Mundial de Saúde, e em mais de 90% dos casos, o homicídio contra as mulheres é cometido por homens com quem a vítima possuía uma relação afetiva, com frequência na própria residência das mulheres. Várias medidas para diminuir este índice têm sido adotadas depois da implantação da Lei Maria da Penha. Uma delas é por meio de diversas intervenções no sistema educacional, contribuindo para a promoção dos direitos das mulheres. Programas de inclusão de mulheres em vulnerabilidade social como o Pronatec Mulheres Mil e o Mulheres Sim têm atuado nessa direção.

Desde 2011, cerca de seis mil vagas foram oferecidas pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) em todo o estado em programas direcionados às mulheres. A grande diferença desses programas está em trabalhar a autoestima das mulheres. “Acolhendo bem essas alunas, ajudamos a fazer com que elas se reconheçam como mulher e se valorizem, e isso as motiva a conseguir os demais objetivos”, destaca a assistente social Ania Tamilis. O perfil socioeconômico das alunas do Mulheres Mil levantado em 2013 mostrou que 40,6% têm acima de 50 anos, 46,5% não têm o Ensino Fundamental completo, 73% precisaram interromper os estudos alguma vez e 36,9% são chefes de família. Dentro deste último índice está Camila Lino de Moraes Preto, que frequentou o curso de Padeira no Câmpus Xanxerê.

exemplo batalha mulher Camila XanxerêAos 21 anos, mãe de dois filhos, um de dois e um de seis anos, iniciando o primeiro ano escolar, Camila sustenta a família depois que o pai das crianças as abandonou. Após se livrar de cotidiano de agressões de parceiro que “bebia demais”, Camila decidiu voltar a morar com a mãe que a ajuda no cuidado com os filhos. Desempregada e desmotivada, passou a frequentar o curso de Padeira. “No curso encontrou esperança, motivação e alegria no grupo de colegas que não a deixou a abandonar as aulas. A alegria dela era vir para as aulas do Pronatec”, conta Durlei Maria Bernardon Rebelatto, orientadora pedagógica do câmpus. Ao encerrar a formação, Camila conseguiu emprego numa padaria de um grande mercado que abriu recentemente em Xanxerê. Segundo ela, o principal é que o curso foi gratuito. “Tem gente que não dá valor, mas eu aproveitei muito, e fiz amizades. Antes eu havia trabalhado em frigorífico, uma atividade penosa”, conta.

ex-aluna pronatec faz matrícula em curso técnicoUm marido que sempre a apoiou é o diferencial na história de vida da pernambucana radicada na Grande Florianópolis, Edilza Carmo dos Santos Luz, também ex-aluna do Pronatec e do Proeja, pelo qual terminou o Ensino Médio, em 2002. Casada há 25 anos com o marido que sempre a incentivou a estudar e a trabalhar, passou por um período depressivo que dificultava tomar a iniciativa. Em 2015 ela fez o curso de agente de alimentação escolar pelo Pronatec no Câmpus Florianópolis-Continente, o que fez surgir a vontade de voltar a estudar. “Durante a formação fizemos um passeio com o pessoal do curso técnico em Turismo e despertei para esta possibilidade profissional. Fiz a prova no IFSC em junho e não fui chamada, daí prestei o exame do Enem pensando: ‘o não já tenho, vou em busca do sim’. Enquanto esperava a classificação no Enem, foi sorteada para o técnico em Guia do Turismo, com vaga à tarde, o que era perfeito para mim”, conta. “E quando saiu o resultado do Enem me surpreendi com o resultado e me inscrevi no Sisu para o superior em Hotelaria do IFSC. Muita felicidade ao receber o e-mail convocando para a matrícula no curso. Vou cursar os dois ao mesmo tempo, pois é triste não ter conhecimento”, relata a aluna.

Anelita (Perfil)Anelita Pereira de Carvalho, 65 anos, é aluna do curso de Operador de Computador, oferecido através do Pronatec pelo Câmpus Gaspar. “Não tenho computador e não sabia nem mexer no telefone celular”, lembra. Nas aulas recebeu ajuda do professor também para isso, e agora está aprendendo a formatar tabelas para organizar os gastos e economizar. Separada há muitos anos, mora em um imóvel do filho e antes do atual curso, fez também o de recicladora pelo Mulheres Mil, depois de ser convidada durante as aulas da EJA. “Fiquei meio assim no começo, tinha preconceito com o curso e estava em depressão”. Mas gostou muito de aprender a reaproveitar materiais, e se entusiasmou ainda mais quando fez curso de panificação. “Foi muito gratificante participar dos cursos. Eu era muito fechada e conheci pessoas, fiz novas amizades. Para quem é sozinha isso é muito importante”, avalia a aluna. A partir das aulas, começou a fazer artesanato, bordados e também quitutes como pão de mel e brigadeiro para vender em feiras.

Antes de frequentar os cursos, Anelita havia trabalhado como costureira de facção, mas teve problemas na coluna cervical e o médico recomendou parar com a atividade. “Aí teve uma enchente grande e estragou as máquinas, o que realmente me obrigou a parar”, conta. Com vários percalços já superados, mas ainda enfrentando dificuldades, ela disse que os cursos Pronatec Mulheres Mil e Mulheres Sim vieram garantir a sobrevivência e propiciaram aprendizados além da formação profissional, com palestras sobre remédios caseiros e direitos da mulher. “Estes cursos nunca deveriam acabar, são como um copo de água fresca para quem está com sede. Tem muitas Anelitas no mundo precisando desse incentivo”, conclui.

“Sinto-me gente agora, criei coragem e espero que venham sempre mais cursos”, declara Sonia Maria Duarte Felipe, 57 anos, que frequenta o curso de Zelador pelo Pronatec Mulheres Mil no Câmpus Criciúma. Ela está entusiasmada em conhecer materiais usados nas construções e pretende trabalhar na área após o término das aulas. Sonia conta que morava na praia, em Jaguaruna, e fazia redes e tarrafas para pescaria, mas devido a problemas de saúde se aposentou e foi morar com um dos filhos, em Criciúma. Sentiu melhorias em sua vida desde os primeiros cursos do Pronatec, em 2014, quando cursou artesanato e operador de computador. “Eu usava três tipos de bombinha contra a asma e agora só preciso de uma, estou mais animada e zen. Antes tinha perdido o ânimo de viver”, conta, acrescentando que na convivência com as colegas troca ideias. Por todos os benefícios que teve em sua vida, ela diz que costuma divulgar os cursos Pronatec para outras mulheres. “O que é bom tem que ser repartido”, afirma.

Nos cursos oferecidos pelo Pronatec Mulheres Mil e pelo Mulheres Sim há, entre as disciplinas básicas, as questões de direito da mulher, saúde e economia solidária. O foco principal é propiciar informações sobre a rede de proteção à mulher, quais os órgãos públicos devem ser procurados e os serviços de assistência com medidas protetivas no caso de denúncias de violência.

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