Números mostram crescimento e perfil de atuação das mulheres no IFSC

30. março 2016 | Escrito por | Categoria: Matérias

O crescimento da participação de mulheres no Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) nos últimos anos – seja como estudantes ou servidoras – é um fato comprovado pelos números. Em 2004, apenas 28,8% dos alunos do então Centro Federal de Educação Tecnológica de Santa Catarina (Cefet-SC) eram do sexo feminino. Em 2013, elas passaram a ser maioria entre os estudantes que ingressam na instituição (54%). No ano passado isso também ocorreu, embora com ligeira queda no percentual de ingressantes do sexo feminino: 53,01% do total.

Formatura de técnicas em Agroindústria do Câmpus Xanxerê em 2016.

Os dados de 2004, que constam no Relatório de Gestão do Cefet-SC daquele ano, são os mais antigos que o IFSC possui divulgados em seu portal sobre o gênero de seus estudantes de maneira censitária, ou seja, considerando todos os alunos da instituição. Em alguns dos anos seguintes, também em relatórios de gestão, foram usadas amostragens com os respondentes das autoavaliações institucionais feitas pela Comissão Própria de Avaliação (CPA) – cerca de 10% a 15% do total de estudantes – para analisar a distribuição dos alunos de acordo com o gênero. Outro dado censitário aparece no relatório de 2008, mostrando que as alunas correspondiam a 33,2% do total naquele ano. No relatório de gestão mais recente, que usou dados da pesquisa CPA, 42,63% dos respondentes eram do sexo feminino.

Nos últimos anos, as mulheres passaram a ser maioria dos alunos ingressantes no IFSC, como mostram os Anuários Estatísticos de 2013, 2014 e 2015, construídos pela Diretoria de Estatísticas e Informações Acadêmicas com dados globais da instituição. Um dos motivos para isso foi a ampliação da oferta de cursos de formação inicial e continuada (FIC), já que, nessa modalidade, as estudantes do sexo feminino foram 70,6% do total em 2013, 62,7% em 2014 e 65% em 2015. A existência de cursos de FIC dentro dos programas Mulheres Mil e Mulheres Sim ajuda a explicar esses números.

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Alunas do programa Mulheres Sim do Câmpus Tubarão.

As mulheres também são maioria dos ingressantes nos cursos de especialização, embora a diferença para os homens esteja diminuindo a cada ano. Em 2013, eram 74,6% de estudantes do sexo feminino nesses cursos, percentual que caiu para 69,8% em 2014 e 60% em 2015. Por outro lado, as mulheres ainda são minoria em licenciaturas (38,54%), cursos técnicos (37,58%), de graduação (30,84%) e no mestrado profissional (13,33%), de acordo com dados do último anuário estatístico.

Com relação aos servidores, os dados mais antigos divulgados pelo IFSC em seu portal são de 2008 e, depois, de 2015. Eles mostram que houve aumento no percentual de mulheres – de 41,62% para 46% – nesses sete anos, puxado principalmente pelas ocupantes de cargos técnico-administrativos, que passaram de 48,85% para 55,19% do total. Entre os docentes, as professoras ainda são minoria, apesar do aumento de 34,67% para 38,21% entre 2008 e 2015.

O aumento do número de mulheres no IFSC é resultado da percepção de que a mulher pode e deve ocupar ocupar espaço em qualquer área que sinta que tenha afinidade, na visão da professora Cynthia Beatriz Scheffer Dutra, 41 anos, ex-aluna da instituição. “É muito mais fácil hoje a escolha por um curso técnico ou engenharia do que há 20 ou 30 anos”, diz Cynthia, formada em 1992 no curso técnico em Eletrônica da Escola Técnica Federal de Santa Catarina (ETF-SC), hoje Câmpus Florianópolis, e docente do Departamento Acadêmico de Metal-Mecânica do mesmo câmpus. “Observo também que as servidoras têm conquistado cada vez mais espaço nas chefias e cargos de direção, o que modificou a forma de gerenciar o IFSC como um todo”, comenta a professora, que é coordenadora do curso de Engenharia Mecatrônica.

Mulheres ainda buscam espaço nas engenharias e ciências exatas

A trajetória acadêmica de Cynthia foi sempre em cursos das ciências exatas, com maioria de homens. Na sua turma no curso técnico de Eletrônica, havia apenas cinco meninas. “No início do curso, lembro que alguns colegas, e até professores, faziam muitas ‘brincadeiras’ sobre não ser lugar de mulher, mas, com o passar do curso, fomos conquistando o espaço na turma e esta questão sumiu por completo. Posso dizer da minha experiência que éramos tratadas com bastante respeito e até um certo carinho por sermos mulheres, o que, de certo ponto de vista, também está relacionado ao machismo e preconceito da época”, lembra.

Alunas do curso de Engenharia de Telecomunicações do Câmpus São José.

Alunas do curso de Engenharia de Telecomunicações do Câmpus São José.

Depois, ela seguiu para a área de controle e automação na graduação, mestrado e doutorado. Na graduação em Engenharia de Controle e Automação, ela foi a única mulher da turma. “Da mesma forma que, dentro da ETF-SC, acredito que alguns pensavam que não era um curso para mulheres, principalmente alguns professores mais antigos. No entanto, como já era técnica em eletrônica e sempre tive um ótimo desempenho nas disciplinas, fui tratada como igual pelos demais colegas”, comenta.

Para Cynthia, a ainda pequena presença de mulheres nesses cursos tem a ver com questões culturais. “As meninas são preparadas pelas famílias para serem mais delicadas, mais frágeis, mais ‘princesas’ do que engenheiras. A escolha de fazer um curso que tenha que colocar a mão na massa, se sujar entra em conflito com este tratamento. Mas está mudando, lentamente, mas está”, diz. No IFSC, foram 17,9% dos alunos ingressantes em cursos de engenharia em 2015 eram mulheres e, no mestrado profissional em Mecatrônica, esse percentual foi ainda mais baixo: 13,33%

Há diferenças na área de atuação conforme o sexo também entre os docentes da instituição. O artigo “O professor do IFSC: análise do perfil socioeducacional do corpo docente (parte 1)”, publicado na edição de dezembro de 2015 do Boletim iDEIA, traz a informação de que, enquanto os professores concentram-se mais na formação técnica (71,04%) que na formação geral (28,96%), as professoras estão praticamente divididas entre essas duas áreas: 51,41% na formação técnica e 48,59% na formação geral. O artigo foi produzido pelos servidores Gustavo Henrique Moraes, Igor Thiago Marques Mendonça, Douglas Alexandre Rodrigues de Souza e João Henrique Ávila de Barros.

Maioria no câmpus, servidoras e alunas criam grupo feminista

No Câmpus Jaraguá do Sul, onde as mulheres foram 62,24% do total de alunos que ingressou no IFSC em 2015 e eram 59,05% do total de servidores no final do mesmo ano, foi criado um grupo de estudos feministas, o FemiFight, com participação de estudantes e servidoras. Entre as ações já tomadas pelo grupo, estiveram um protesto contra o machismo, o assédio e as desigualdades de gênero presentes na sociedade em novembro passado e debates na semana do Dia do Internacional da Mulher, neste março.

andressafranciscoA estudante Andressa Luiza Francisco (foto), 18 anos, da sétima fase do curso técnico integrado em Química, conta que entrou para o grupo por ter vivenciado casos de machismo. “Ele [o machismo] muitas vezes nos machuca e priva mulheres de muitas coisas, como caminhar sozinha. Quando vi que, além de mim, outras mulheres sentem e vivem essas situações, percebi a importância de me juntar aos estudos e ações”, diz. Entre as situações que a motivaram entrar no grupo, ela relata provocações e cantadas na rua, comentários sobre roupas e relacionamentos que as meninas mantêm e a visão de que a mulher deve se preparar para ser uma boa dona-de-casa e agradar seu futuro marido.

Algumas dessas situações ela presenciou dentro do IFSC. No entanto, desde o surgimento do grupo e dos debates sobre gênero feitos em sala de aula, elas se tornaram “mais raras”, segundo Andressa. A estudante avalia como “edificante” sua participação no grupo. “Essa experiência nos permite romper conceitos e padrões impostos e iniciar essa ainda pequena revolução que parte de dentro de cada um. Acredito que é uma experiência marcante por promover mudança em nós”, comenta.

IFSC TV produz vídeo em homenagem ao Mês da Mulher

Aproveitando que março é o Mês da Mulher, a IFSC TV produziu um vídeo falando sobre o Dia Internacional da Mulher (8 de março) e da luta pela igualdade de gênero. Com oito minutos de duração, a produção audiovisual aborda os motivos que levaram à criação do Dia da Mulher, traz dados que mostram as diferenças entre mulheres e homens na sociedade e entrevistas e depoimentos sobre as dificuldades que a mulher enfrentar para atingir a igualdade de tratamento com os homens, entre outros assuntos. Assista ao vídeo:

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