A educação para surdos ainda tem um longo caminho a percorrer no Brasil. Mais um grande passo nesse sentido já foi dado com a criação do Campus Palhoça Bilíngue do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em funcionamento desde 2010 em sede provisória. Nesta quarta-feira (05), a presidente Dilma Rousseff inaugurou oficialmente o campus que é a primeira escola de educação profissional e tecnológica bilíngue – Libras/Português – da América Latina.

O campus funciona atualmente na Faculdade Municipal de Palhoça. As obras do novo campus serão finalizadas até o final deste ano no bairro Pedra Branca. A previsão é que em março as aulas do primeiro semestre de 2013 já comecem a ser dadas na nova estrutura.

Para o diretor-geral do Campus Palhoça Bilíngue, Vilmar Silva, esse momento marca a oficialidade do campus. “Com isso, garantimos nossa continuidade e afirmamos a possibilidade de espalhar cursos para Santa Catarina e todo o País”, afirmou.

O diferencial do campus é que o ensino é voltada para a oferta de educação profissional bilíngue – Libras/Português, tendo como público-alvo tanto pessoas surdas como os ouvintes. “Não é apenas o ato de estudar junto, mas o ato de ter a metodologia de ensino que permite que as pessoas estudem juntas”, explica Vilmar.

Na solenidade de Brasília, realizada junto com o 7º Encontro Nacional da Indústria, no Centro de Convenções Ulysses Guimarães, a presidente Dilma afirmou que a educação é um patrimônio que o Brasil deve assegurar para todos os seus filhos. “Tudo que se gasta na educação, não é gasto, mas sim investimento para o momento presente e futuro” , afirmou.

O ministro da Educação, Aloizio Mercadante, que também participou do evento, reforçou que educação é uma prioridade para o governo no combate às desigualdades sociais e regionais. “O Brasil já é a sexta economia do mundo, mas só seremos uma nação desenvolvida quando tivermos educação universal e de qualidade”, disse.

Marcando a oficialização das atividades de 35 novos campi da Rede Federal de Educação Profissional e Tecnológica – entre eles o Campus Palhoça-Bilíngue -, a presidente Dilma fez a entrega da placa de inauguração do Campus Passos ao reitor do Instituto Federal do Sul de Minas Gerais, Sérgio Pedini. O também vice-presidente do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), representou todos os reitores das instituições que possuem novas unidades.

Para a reitora do IFSC, Maria Clara Kaschny Schneider, a inauguração oficial de mais um campus do IFSC marca mais um momento da expansão do Instituto. “Nosso foco têm sido ampliar a oferta de educação pública e de qualidade para todo o estado”, afirmou. A dirigente do Instituto destacou ainda o papel inclusivo do Campus Palhoça-Bilíngue. “É um marco para Santa Catarina e para o Brasil nós termos criado um campus voltado à educação de surdos, um público que ainda não tem uma atenção merecida”, ressaltou.

Resultados visíveis

Apesar de só ter sido inaugurado oficialmente nesta semana, o Campus Palhoça Bilíngue funciona em sede provisória desde 2010. Em pouco tempo de atuação, é possível ver o resultado do trabalho nos alunos que já passaram pela instituição.

Fernando Oscar Martins tem 20 anos, é surdo, e já fez o curso de qualificação em edição de vídeo e o curso técnico em Materiais Didáticos Bilíngue no Campus Palhoça. “Achei importante termos em comum as aulas em libras e a integração com as pessoas”, disse com a ajuda da professora de tradução e intérprete do campus, Márcia Dilma Felício.

Em função dos cursos feitos no IFSC, Fernando despertou o interesse por continuar a estudar. Atualmente, ele estuda Pedagogia na Faculdade Municipal de Palhoça. “Quero ser professor, concluir meu curso e tenho o sonho de trabalhar no próprio Campus Palhoça do IFSC”, afirmou.

O egresso do Campus Palhoça Bilíngue participou como convidado da cerimônia de Brasília e ressaltou a oportunidade que o novo campus do IFSC oferece para as pessoas. “Todos os surdos vão poder estudar no campus porque é único”, sinalizou.

Servidora do Campus Palhoça desde 2011, a professora Márcia também foi a Brasília como intérprete do Fernando. A profissional aprendeu libras e fez pós-graduação na área após ter tido uma filha surda. Hoje, com 19 anos, a filha é sua aluna no curso técnico de Materiais Didáticos Bilíngue do campus. “O campus é uma oportunidade que as pessoas surdas têm para ter uma educação de qualidade e o direito de cidadania garantido. Como mãe e professora, fico mais tranquila ao saber que agora temos uma escola assim”, ressaltou.

Sobre o campus

Atualmente, o Campus Palhoça Bilíngue já oferece um curso técnico subsequente ao Ensino Médio em Materiais Didáticos Bilíngue e uma especialização Lato Sensu em Educação de Surdos. Além disso, todo semestre são ofertados diversos cursos de qualificação na área como animação, libras e edição de vídeo. Para 2013, devem ser oferecidos também um curso voltado à educação de jovens e adultos em fotografia e um técnico integrado ao Ensino Médio em comunicação visual.

O novo campus está sendo construído em um terreno de 16 mil m² no bairro Pedra Branca. O prédio terá cerca de 5 mil m² modulado em três blocos. A estrutura contará com salas de aula e administrativas, laboratórios e biblioteca.

Fotos: Divulgação IFSC e Presidência da República