Professor português fala sobre o papel social da engenharia em aula inaugural
26. março 2013 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, Eventos, MatériasO professor português António Pinto Barbedo de Magalhães resumiu em duas frases a mensagem que passou com sua palestra na aula inaugural dos cursos de engenharia do Câmpus Florianópolis: “A engenharia faz-se para transformar o mundo em benefício de todos. Ser um engenheiro sem ser cidadão não vale a pena”. Barbedo, 70 anos, professor aposentado da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (Feup), contou para uma plateia formada por alunos e servidores do IFSC sua trajetória na engenharia, política e educação, incluindo seu engajamento na reforma do ensino em Timor-Leste. O evento ocorreu ontem (25), no Auditório Antonieta de Barros, na Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), na Capital.
Não foi uma palestra técnica sobre engenharia, mas uma aula sobre processo de aprendizagem e a relação entre a engenharia e causas sociais e políticas. Para falar de sua visão sobre a educação e o ensino de engenharia, António Barbedo recorreu a sua história de vida. Nascido no arquipélago dos Açores, desde cedo aprendeu com o pai e os irmãos a fazer coisas como um barco, experimentos químicos e até lançamento de pequenos foguetes com o uso de pólvora. Até os 65 anos, ainda construía móveis para uso pessoal e de sua família.
O palestrante fez um paralelo disso com a educação, citando um pensamento do filósofo chinês Confúcio: “O que faço, aprendo”. Para Barbedo, os sistemas educacionais devem ser mais flexíveis e estimular a participação dos estudantes no seu próprio desenvolvimento. “Os métodos pedagógicos e os modelos educativos estão completamente desajustados das necessidades do tempo de hoje”, avalia. Segundo ele, em muitos casos, o sistema educativo matou a curiosidade de saber o que não é ensinado. “Cada um aprende engenharia a sua maneira. Quanto mais diversificadas forem as formas de aprendizagem, melhor”, completa.
Licenciado em Engenharia Mecânica e doutor em Ciências Aplicadas pela Universidade de Gent (Bélgica), António Barbedo foi professor da Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (Feup) de 1968 até fevereiro deste ano. Como engenheiro, tem cinco patentes, no domínio das tecnologias de fundição. Esse foi, no entanto, um tema que ele abordou rapidamente na palestra. Preferiu falar mais de sua atuação política – embora nunca tenha sido filiado a partido – e social e da relação dela com sua carreira como professor e engenheiro.
Barbedo participou de manifestos contra a ditadura em Portugal (que durou de 1926 a 1974). Quando cumpria o serviço militar obrigatório, já tendo concluído seu doutorado, ficou nove meses em Timor-Leste, na época uma colônia portuguesa no Sudeste Asiático. De novembro de 1974 a agosto de 1975, trabalhou na reestruturação do ensino timorense. “Assumir causas sociais é essencial para a educação”, comenta.
O distanciamento da engenharia com as causas sociais e políticas ocorre praticamente no mundo todo, de acordo com Barbedo. Isso porque o engenheiro não seria incentivado a questionar. “O engenheiro deve ter consciência crítica da realidade. É necessário ter uma visão global, em que o social, o físico, o econômico e o político devem ser levados em conta. Não é apenas um desafio de engenharia, mas também um desafio de cidadania”, afirma.
Na volta a Portugal, depois de terminar serviço militar, António Barbedo continuou a dedicar-se à causa da independência timorense (quatro meses após a saída de Barbedo, o território da antiga colônia portuguesa foi invadido e ocupado pela vizinha Indonésia, de quem o Timor tornou-se independente apenas em 2002), organizando conferências em Portugal, Alemanha, Austrália, Brasil, Estados Unidos, Canadá e outros países. Na vida acadêmica, coordenou projetos como o Pesc (“Projetar, Empreender e Saber Concretizar”), liderado pelos próprios estudantes da Feup, e que foi premiado nacionalmente como melhor projeto para o fomento do empreendedorismo entre os alunos do ensino superior português. Mais tarde, o Pesc evoluiu para o projeto Lidera, que foi estendido a toda a Universidade do Porto.
António Barbedo fica em Florianópolis até a quarta-feira, onde vai comandar uma visita guiada a uma exposição de banners sobre Timor-Leste que está aberta no hall de entrada do Câmpus Florianópolis. Para saber mais sobre o professor, clique aqui.
Engenharias no Câmpus Florianópolis
A aula inaugural reuniu alunos das primeiras turmas dos cursos de Engenharia Eletrônica, Engenharia Elétrica e Engenharia Mecatrônica do Câmpus Florianópolis e professores e servidores ligados a esses cursos, além da coordenadora do curso de Engenharia Civil, que inicia as aulas no semestre 2013.2. Com esses cursos, o IFSC passará a ter seis engenharias – já oferece a Engenharia de Controle e Automação no Câmpus Chapecó e a Engenharia de Telecomunicações no Câmpus São José. “O sonho da engenharia é de muito tempo. Começamos a discuti-lo quando éramos CEFET-SC. Tenho certeza de que todas as nossas engenharias no Câmpus Florianópolis serão de excelência”, afirmou a reitora Maria Clara Kaschny Schneider em seu discurso na aula inaugural.
No evento, o diretor-geral do Câmpus Florianópolis, Maurício Gariba Júnior, deu posse aos quatro coordenadores dos cursos de engenharia: Cynthia Beatriz Scheffer Dutra (Engenharia Mecatrônica), Jony Laureano Silva (Engenharia Eletrônica), Luciana Maltez Lengler Calçada (Engenharia Civil) e Rafael Nilson Rodrigues (Engenharia Elétrica).