Evento sobre algas nocivas reúne especialistas de dez países

7. outubro 2013 | Escrito por | Categoria: Câmpus Itajaí, Eventos, Matérias

proencaPesquisadores de dez países deram início na manhã desta segunda-feira (7) à Reunião Latino-americana sobre Algas Nocivas, que até a próxima quarta vai discutir as ações na área, avaliar o progresso do conhecimento sobre o assunto nos últimos dez anos e identificar potenciais iniciativas de trabalhos colaborativos entre instituições. O evento é organizado pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), por meio do Laboratório de Pesquisas em Algas Nocivas e Ficotoxinas do Câmpus Itajaí.

Além de estudiosos provenientes de sete países latino-americanos – Brasil, Uruguai, Peru, Argentina, Chile, Equador e México -, o encontro tem a participação também de especialistas da Alemanha, Espanha e Suécia, países com grande destaque nas pesquisas sobre algas nocivas e ficotoxinas (substâncias tóxicas produzidas pelas algas). Mais de 60 pesquisadores participam do evento, realizado na praia da Cachoeira do Bom Jesus, no norte de Florianópolis.

mesa_mariaNa solenidade de abertura da reunião, as autoridades que compuseram a mesa salientaram a importância do desenvolvimento de pesquisas sobre algas nocivas para a economia das regiões litorâneas. Luiz Antônio de Oliveira Proença (à direita na foto), coordenador do evento e professor do Câmpus Itajaí do IFSC, observou que o desenvolvimento de pesquisas na área e a troca de experiências são imprescindíveis para que se minimizem os efeitos dessas algas sobre a pesca e a maricultura. O diretor do Câmpus Itajaí, Widomar Pereira Carpes Júnior (à esquerda na foto), ressaltou que, sem as recentes pesquisas na área, possivelmente os maricultores do estado enfrentariam dificuldades para comercializar sua produção.

A reitora Maria Clara Kaschny Schneider acrescentou que, além da segurança ambiental e da questão econômica envolvida no tema, há também a preocupação com a saúde da população. “Nossos pesquisadores têm feito um trabalho de excelência nessa área e estão se tornando referência nacional, o que para nós é motivo de muito orgulho”, afirmou a reitora. Além do aspecto econômico, Maria Clara salientou também o impacto do aumento do conhecimento acerca das algas nocivas na saúde pública – já que o consumo de moluscos e pescados contaminados pode provocar doenças. “Tenho certeza de que a reunião terá desdobramentos muito positivos e fico muito feliz por receber tantos representantes de outros estados brasileiros e países que estão colaborando conosco”, disse.

Incidência

beatriz_reguera_1Das cerca de 110 espécies de microalgas produtoras ou potenciais produtoras de toxinas, 53 são encontradas na Argentina, Brasil, Chile, Equador, Peru e Uruguai – países que integram o grupo de trabalho sobre florações de algas nocivas na América do Sul (Fansa, na sigla em espanhol), por sua vez ligado ao programa de algas nocivas da Comissão Intergovernamental Oceanográfica (COI, na sigla em inglês) da Unesco. Os registros de problemas causados pelas chamadas “marés vermelhas” são antigos, como observa Luiz Proença, e nos últimos anos esses problemas têm se acentuado em função tanto da maior atenção dos cientistas quanto pelas mudanças globais. Um caso recente foi registrado em janeiro de 2009, em Florianópolis, quando os maricultores da região do Ribeirão da Ilha ficaram impossibilitados de comercializar sua produção em função da contaminação dos moluscos por ficotoxinas.

As primeiras iniciativas de estudos colaborativos em torno das algas nocivas na América Latina remontam à década de 1980 e evoluíram para a criação do grupo de trabalho Fansa em 1994, como mostrou Beatriz Reguera (na foto acima), pesquisadora do Instituto Espanhol de Oceanografia, em Vigo (Espanha). Desde então, esse grupo já realizou oito grandes encontros com foco na colaboração entre pesquisadores e instituições desses países. “Este evento no qual estamos também pode ser considerado uma reunião do grupo Fansa”, observou Luiz Proença, do IFSC.

auditorioCom objetivos semelhantes aos do grupo Fansa, na década de 1990 formou-se um grupo de pesquisa sobre algas nocivas envolvendo países do Caribe (chamado de Anca), também com foco no estímulo à colaboração regional. Iniciativas governamentais também têm sido estruturadas, como a Infopesca, organização intergovernamental para o desenvolvimento de atividades de pesca e aquicultura que tem dado ênfase crescente ao tema das algas nocivas.

Para Proença, há um grande campo para desenvolvimento de iniciativas intrarregionais de pesquisa sobre algas nocivas. “A capacidade instalada, tanto de recursos materiais como humanos é muito rica, da mesma forma como a diversidade de ambientes, espécies e problemas causados por algas nocivas. Há um potencial muito grande para projetos científicos conjuntos, ações de capacitação e educação em todos os níveis”, afirma o pesquisador.

Veja a programação e mais informações sobre a Reunião Latino-americana sobre Algas Nocivas clicando aqui.

Saiba mais

– Algas nocivas são algas presentes naturalmente no ambiente aquático que podem produzir substâncias tóxicas (ficotoxinas), comprometendo os recursos aquáticos. Seus danos são especialmente graves na área da maricultura e da pesca.

– Na América Latina, as principais síndromes provocadas pelo consumo de moluscos contaminados com ficotoxinas são a DSP (diarreica) e a PSP (paralisante). A DSP é caracterizada por náuseas, vômitos, diarreias e dores abdominais causadas pelo consumo de moluscos contaminados  por ácido okadaico e seus derivados. O ácido okadaico é produzido por algas do gênero Dinophysis, que ocorre no litoral catarinense. Já a PSP, ou envenenamento paralisante por consumo de mariscos, pode ser provocada pela substância saxitoxina. Seus sintomas são formigamento ou dormência nos lábios, fisgadas nas pontas dos dedos, dores de cabeça, tonturas, vômitos, náuseas e diarreia. Em casos extremos evolui para paralisia muscular, dificuldade para respirar e sensação de choque, podendo causar morte por paralisia respiratória entre 2 e 24 horas após a ingestão do molusco contaminado.

– O IFSC é responsável pelo monitoramento de algas nocivas e ficotoxinas no estado de Santa Catarina, ao lado da Companhia Integrada de Desenvolvimento da Agricultura de Santa Catarina (Cidasc). A atividade faz parte do Programa de Controle Higiênico-sanitário de Moluscos Bivalves do governo do estado, que está incluído em programa nacional do Ministério da Aquicultura e Pesca. As coletas são feitas em diversos pontos de áreas de cultivo de moluscos e o material é analisado nos laboratórios do Câmpus Itajaí do IFSC. Nessas amostras, são monitorados os níveis de toxinas das síndromes diarreica, paralisante e amnésica em moluscos cultivados, além da presença de organismos potencialmente nocivos.

Fonte: Laboratório de Pesquisas em Algas Nocivas e Ficotoxinas do IFSC

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