Quando o Câmpus Lages começou a ser construído, em 2008, Marcos Antônio Ferreira Rosa acompanhou todo o processo. Tijolo a tijolo, como vigilante da obra, Marquito – como é conhecido – viu as salas tomarem forma e se transformarem numa grande estrutura de 6,2 mil metros quadrados de área construída. Após a conclusão da obra, o vigilante continuou a prestar serviços de vigilância para o câmpus, agora com a estrutura já em funcionamento. Mas o vigia fez mais do que cuidar da obra. “Ajudei a arrumar a biblioteca e colocar carteiras nas salas”, conta.

Trabalhando no câmpus desde que as aulas começaram no segundo semestre de 2010, Marcos conhece alunos e servidores. “Converso com todos, brinco e chamo a atenção quando é preciso”, afirma. Foi justamente essa relação de amizade que levou os formandos do semestre passado dos cursos técnicos em Agroecologia, Informática e Biotecnologia a convidarem Marcos para ser o patrono das turmas na cerimônia de formatura realizada em fevereiro deste ano.

“O Marquito era um guarda diferente, estava sempre nos ajudando, qualquer coisa que pedíamos, ele nos atendia”, conta Franciele de Oliveira Bitencourt, uma das formandas do curso técnico em Biotecnologia. Segundo a egressa do IFSC, em uma das reuniões de formatura, foi discutida a questão do patrono, que normalmente seria uma figura política. “Durante o encontro, um dos alunos sugeriu chamarmos o Marquito, porque era uma pessoa que fazia parte do nosso cotidiano e nos acompanhou durante nossa caminhada no IFSC”, explica.

O convite foi inesperado. “Eu estava na estufa, quando o pessoal me chamou. Achei que era briga! Quando cheguei, os alunos fizeram o convite. Fiquei surpreso e muito feliz”, relata Marcos.

No cerimonial de formaturas, patrono é uma personalidade que inspira os futuros profissionais. A pedagoga e orientadora educacional do câmpus, Simone Dulz, responsável pela organização das formaturas, explica que as turmas são livres para fazer essa escolha. As primeiras turmas que se formaram convidaram empresários e vereadores da região. Na penúltima formatura, o chefe do Departamento de Ensino, Pesquisa e Extensão do câmpus, Thiago Meneghel, foi patrono das três turmas. E, nesta última formatura, pela primeira vez, um funcionário terceirizado foi convidado para ser o patrono. Recebemos o convite com surpresa e alegria por perceber que os alunos reconhecem o trabalho dos funcionários terceirizados”, ressalta Simone.

Mas não foi só Marcos que inspirou os alunos pela cordialidade e presteza. Os estudantes também foram responsáveis por uma mudança na vida do vigia de 34 anos. “Eu achava que alguns alunos – principalmente aquela galera do fundão – não ia conseguir se formar. E eles se formaram. Isso me fez ver que eu podia também”, destaca. A inspiração levou Marcos de volta à sala de aula, que não frequentava desde 2004 quando terminou o Ensino Fundamental. E o local escolhido para estudar não poderia ser outro: o próprio IFSC.

Desde o início deste ano, Marcos é vigia do Câmpus Lages durante o dia e aluno do curso técnico de Eletromecânica durante a noite. Apesar da rotina puxada de trabalho e estudo, Marcos nem pensa em desistir. “Decidi aproveitar a oportunidade já que estou aqui, conheço as pessoas, tem curso de graça. Se eu não aproveitar a oportunidade, ninguém vai me dar um diploma de mão beijada”, afirma.

Para os servidores do câmpus, ter o Marquito agora também como aluno é motivo de orgulho. “Percebemos que seu interesse e sua motivação têm servido de exemplo para os demais alunos”, destaca Simone.