Doze alunos do projeto piloto de reconhecimento e certificação de saberes escolares de trabalhadores receberam, nesta segunda-feira (14), seus certificados de conclusão do ensino fundamental. Alegria e orgulho eram os sentimentos compartilhados entre os formandos, como expressou Julio César Perez Martinez: “A gente pode ter capacidade, mas sem o documento na mão a gente não é ninguém. Agora todos nós aqui somos alguém e vamos continuar estudando”, disse, emocionado.

O projeto piloto começou a ser desenvolvido em abril de 2014 e envolveu a atuação de 16 profissionais da educação, que formataram o curso com foco em dois perfis profissionais com demandas específicas na região: guias de turismo e trabalhadores que atuam na preparação de merenda nas escolas públicas. De acordo com a coordenadora do Proeja do IFSC, Elenita Eliete de Lima Ramos, muitos desses profissionais atuam hoje na ilegalidade, já que para trabalhar nessas áreas é preciso ter formação técnica. Contudo, como essas pessoas não tinham ainda o ensino fundamental concluído, era impossível que elas buscassem a formação técnica, de nível médio, e a consequente regularização.

O projeto é uma ação da Comissão de Integração dos Programas Sociais do IFSC (Cips), liderado pelas coordenadoras do Proeja, Elenita Ramos, e do Certific, Cláudia Hickembick. “Esse projeto é inovador em relação à educação formal. Se a gente não muda a educação formal, não se consegue atingir muitas pessoas que precisam”, observou, na solenidade de entrega dos certificados, a reitora Maria Clara Kaschny Schneider. Com o ensino fundamental concluído, agora os guias e merendeiras estão aptos para ingressar nos cursos técnicos de Guias de Turismo e de Gastronomia, que serão ofertados nos próximos semestres no IFSC, na modalidade Proeja. “Nós ficamos muito felizes por oferecer essa oportunidade para que vocês possam continuar avançando na vida pessoal e profissional”, disse Maria Clara.

O retorno às atividades escolares foi transformador para a merendeira Cíntia Varela Cardoso, 34 anos. Casada e mãe de três filhos, de 14, 11 e 2 anos, ela atua na creche municipal do bairro Jardim Atlântico, onde ajuda no preparo da alimentação para cerca de 100 crianças todos os dias. “Quero fazer o curso de Gastronomia para aprender mais e melhorar minha atuação”, disse. A dedicação de algumas horas semanais para os estudos em casa provocou também mudanças na rotina familiar. “Teve um dia em que eu estava estudando e, quando vi, meus dois filhos maiores estavam fazendo a tarefa também. Eu sempre tive que brigar para eles estudarem, mas com meu exemplo eles resolveram estudar junto”, alegra-se.

As particularidades do projeto de reconhecimento e certificação de saberes escolares foram um grande desafio, na análise do diretor de Ensino do IFSC, Paulo Roberto Wollinger. “Esse foi um projeto muito diferente e desafiador. E o próximo desafio que nós vamos enfrentar com vocês é o do curso técnico”, instigou, em sua fala na solenidade de certificação. “Com a educação é assim, vencer uma etapa nos dá disposição para enfrentar a próxima. E com educação a gente sempre vence”, afirmou.

Texto atualizado em 17 de julho de 2014 às 14:25.