A Semana do Empreendedorismo promovida pelo Câmpus Caçador do IFSC é, além de um evento técnico-científico, um espaço para inclusão social. Reeducandas do Presídio Regional de Caçador participaram do evento com um estande na Feira de Empreendedorismo, que reunia a exposição de trabalhos de alunos, ex-alunos e entidades da região.

Elas são alunas do curso Educação e Gênero, do Programa Mulheres Sim, ofertado pelo Câmpus Caçador lá no presídio. São 30 internas na turma, que revesavam em grupos de seis para que todas pudessem participar da feira. O grupo estava expondo seus produtos feitos na oficina de artesanato natalino e foram vendidas toalhas de mesa e louça, fuxico, móbiles, guirlandas e árvores-de-natal.

Além do artesanato, as reeducandas aproveitaram a feira para prestarem o serviço de decoração de unhas para os visitantes do evento. O dinheiro arrecadado com a venda das peças será dividido entre todas as participantes do projeto.

“O IFSC veio até nós e propôs a parceria e isso teve toda a importância no processo de reintegração e ressocialização delas. Isso gerou, além de ocupação, renda para elas e familiares. Tem internas já conseguindo sustentar sua família com o dinheiro do artesanato”, explica a coordenadora do projeto para o presídio, a agente penitenciária Lena Dutra.

A atividade não tem reflexo apenas profissional. Para Lena, a atividade do Mulheres Sim “as deixa mais calmas, menos ansiosas. Muitas delas já manifestaram o interessa de continuar com a atividade quando saírem do presídio”. Além de geração de renda, as participantes do Mulheres Sim têm aulas de saúde da mulher, desenvolvimento social e sustentável, informática, conhecimento histórico-cultural, vivência matemática, linguagem e ética e cidadania.

“É um grande aprendizado. Isso renovou a minha vida e das outras meninas também. Aprendemos que quando sairmos de lá podemos ter uma nova história adiante sem precisar do crime. Mais do que isso: aprendi que podemos viver melhor”, conta Franciele Schneider da Cunha, que cumpre 13 anos em regime fechado por tráfico de drogas.

E o aprendizado não fica apenas com as reeducandas. Alessandra Bianca Savi, professora de artesanato e ex-aluna do curso Técnico em Vestuário do IFSC Câmpus Caçador, disse que participar do programa a fez refletir sobre seus preconceitos. “Foi ótimo. Na verdade, aprendi mais do que ensinei. As vezes as julgamos tão mal por estarem nessa situação. Contudo, de perto eu vejo que elas fizeram escolhas erradas no passado, mas nem por isso devem ser esquecidas pela sociedade”, comenta.

“Estamos cumprindo nosso papel social como instituição, que é ajudar na reintegração e ressocialização dessas mulheres em vulnerabilidade social por meio do compartilhamento de saberes. Sempre tivemos apoio da direção do presídio para as atividades que propomos às reeducandas. Tanto dentro, as aulas ministradas lá, quando em atividades externas, como a feira”, explica Danielle Ullrich, coordenadora do Programa Mulheres Sim do Câmpus Caçador.

A participação das alunas na Feira da Economia Solidária dentro da Semana do Empreendedorismo só foi possível graças à ordem judicial “Agradeço ao juiz da comarca de Caçador, Yannick Caubet, que concedeu autorização para que elas pudessem participar do evento e ter a oportunidade de mostrar e comercializar com a sociedade o resultado do seu trabalho”, completa Danielle.

O projeto encerra este mês. As alunas terão a cerimônia de formatura no próximo dia 27. Danielle explica que a próxima etapa é a avaliação, onde serão colhidos depoimentos das participantes para medir o impacto do programa em suas vidas. O Câmpus Caçador do IFSC pretende continuar a parceira com o presídio e estendê-la para os homens.