Mulheres são as que mais adoecem no Câmpus Florianópolis
9. março 2015 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, Gestão de Pessoas, MatériasSegundo dados levantados junto ao Subsistema Integrado de Atenção à Saúde do Servidor (Siass), as mulheres são quem mais adoece entre os servidores do Câmpus Florianópolis. O levantamento foi realizado pela Coordenadoria de Saúde Ocupacional do câmpus, criada em setembro de 2014. “Tanto nos números gerais, quanto se compararmos em categorias específicas: as professoras adoecem mais que os professores; as técnicas mais que os técnicos”, explica Conceição Santos, uma das responsáveis pelo levantamento, referente aos anos de 2013 e 2014.
Para Maria do Carmo Loureiro, chefe da Coordenadoria de Saúde do câmpus, a principal causa é o acúmulo de papéis da mulher na sociedade. “Como regra social, a mulher assume o papel principal de cuidadora, e isso tem reflexos físicos, mas também, e principalmente, emocionais. A gente percebe que muitas chegam aqui com sintomas físicos, mas que são na verdade reflexo de uma carga emocional muito alta”, conta Maria do Carmo. “Mesmo quando uma mulher se afasta do trabalho por questão de saúde, ela vai pra casa e quase sempre fica lá cuidando dos filhos, do marido, resolvendo problemas”.
“Há exceções, claro, mas, no geral, a mulher é quem sempre assume o papel de cuidadora. Tanto que aqui no Câmpus, quando em um casal ambos são servidores, o cadastramento dos dependentes fica no nome da mulher, afinal, ela é quem vai se afastar caso algum deles precise de cuidados – e não estamos falando só de filhos, mas de pai e mãe também”, afirma Letícia Wiggers, psicóloga do Departamento de Gestão de Pessoas do Câmpus e também membro da Coordenaria de Saúde Ocupacional.
Todos esses dados foram levantados pela Coordenadoria em função de um trabalho de diagnóstico exigido pela legislação em vigor, criado junto com o SIASS, que busca a Qualidade de Vida no Trabalho. “Essa legislação dá diretrizes para ações de promoção, vigilância e assistência em saúde. E a Qualidade de Vida no Trabalho também está prevista no Planejamento Estratégico do câmpus”, explica Letícia. De acordo com Conceição e Letícia, outra característica dessas ações, segundo as normas do Siass, é que elas sejam participativas. “Precisamos que os servidores participem dizendo o que é necessário para eles, quais as demandas, os problemas”, lembra Conceição.
A Comissão Interna de Saúde do Servidor Público (CISSP), à qual está ligada a Coordenadoria de Saúde Ocupacional, foi criada no câmpus em 2013. Desde então, o trabalho ainda está sendo realizado de forma mais interna, articulando parceiros internos (como os profissionais do curso de Segurança do Trabalho do câmpus e o próprio SIASS), mapeando, fazendo diagnósticos e planejando a capacitação dos integrantes da CISSP.
“As nossas ações fazem parte de uma reorganização da Gestão de Pessoas, que de coordenadoria virou um departamento. Em geral, no serviço público, ainda se vê a Gestão de Pessoas como Departamento Pessoal. Precisamos promover uma mudança de cultura, pois a Gestão de Pessoas não é só aquele local onde se vai pedir contracheque, questionar alguma coisa, entregar papéis. É isso também, mas queremos ser mais”, defende Letícia.
“O DGP é a porta de entrada e o coração da instituição em relação ao servidor. É com a gente o primeiro contato. E é onde o servidor pode se sentir acolhido, ele em que chegar no departamento sem medo, pois isso faz parte do desenvolvimento do nosso trabalhador”, explica Conceição. E Letícia lembra que já é ultrapassada a visão de que “o que é pessoal tem que ficar de fora”. “Não existe a separação. O ser humano é integral. E isso significa que a gente, como instituição, está se responsabilizando também pela saúde individual do servidor. Não é aquela coisa de “a sua saúde é sua, vá comer bem, fazer exercícios e você se cuida sozinho”. O trabalho é um ambiente que gera adoecimento”, relata a psicóloga.
Como assistente social, Conceição conta que o maior desafio é entrar na intimidade do outro. Às vezes, não se tem a dimensão dos problemas que o outro está enfrentando. “Teve um servidor que veio até mim, na Assistência Social, e falou: ‘estou aqui há 30 anos e é a primeira vez que alguém pergunta realmente como estou. Não preciso de grandes programas, eu preciso de alguém que me escute’. Às vezes, é algo que a pessoa não tem nem na própria casa”, finaliza Conceição.