Professora francesa conta como foi a experiência de lecionar para servidores e alunos do IFSC
15. maio 2015 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, Câmpus Florianópolis-Continente, Câmpus São José, Matérias, ReitoriaNa próxima sexta, dia 22, ocorre o encerramento do curso de francês para servidores e alunos do IFSC, em evento que será realizado na Reitoria. Iniciado em 29 de setembro de 2014, o curso de teve quatro turmas – três de nível introdutório e uma de nível intermediário – com aulas nos câmpus Florianópolis e Florianópolis-Continente. Também participaram estudantes e servidores da Reitoria e do Câmpus São José.
O curso teve aulas expositivas e dialogadas, aulas práticas nos laboratórios de línguas, atividades individuais e em grupo, ambientações e pesquisa sobre aspectos linguísticos e culturais. “Não tem só a língua, tem a cultura [francesa] também e eu insisti muito sobre isso durante o ano”, conta a professora do curso, Julie Godard. Francesa de 25 anos, Julie veio ao Brasil ministrar aulas para os alunos e servidores do IFSC por meio de convênio entre os governos dos dois países. Na segunda edição do curso, no segundo semestre deste ano, virá um novo professor por meio desse acordo.
Além de Julie, outros sete franceses passaram os últimos meses ensinando a língua de seu país em instiutos federais. A professora que veio ao IFSC é natural de Nantes, no noroeste da França (390km de Paris), licenciada em Línguas Estrangeiras (Inglês e Espanhol) e mestranda em Ciências da Linguagem e Ensino de Francês para Estrangeiros, em Montpellier, no Sul da França. Ela já morou na Escócia e passou um ano trabalhando em Portugal, onde aprendeu a falar português fluentemente.
Em entrevista ao Link Digital, Julie comenta sobre como foi a experiência de ministrar o curso de francês para alunos e servidores do IFSC e de viver no Brasil, país que ela não conhecia antes de setembro do ano passado.
Link Digital: Como surgiu a oportunidade de você vir para o IFSC?
Julie Godard: Existe na França um programa do Ministério dos Assuntos Exteriores e nesse programa todos os estudantes que estudam o ensino do francês para estrangeiros em uma universidade francesa podem ir fazer estágio num lugar do mundo inteiro, porque tem ofertas do mundo inteiro. Eu olhei para as ofertas para fazer um estágio de fim de mestrado no estrangeiro, porque todos meus estágios antes eram na França, então queria ir para outro país. Eu vi que tinha ofertas para o Brasil, em diferentes institutos federais do Brasil. São vários que tem estagiárias como eu. Somos oito colegas, na verdade, agora, em todo o Brasil. Tem colegas em Manaus, Brasília, Porto Alegre… E daí como eu falava já um pouco de português, por causa da minha experiência em Portugal, e queria melhorar meu português, e também porque a oferta era muito boa… O que eles apresentaram na oferta era bom pra mim, porque tinha promoção cultural, era um instituto federal, eu não conhecia essa estrutura, e também porque tinha aula de francês e tinha várias coisas que me interessaram na oferta. Escolhi Florianópolis. Tinha também Belém e Porto Alegre. Florianópolis primeiro porque já trabalhei com alunos estrangeiros e já tinha alunos brasileiros e todos eles me aconselharam a escolher Florianópolis por causa da qualidade de vida, pra poder viajar depois e tudo. Então, eu tive confiança neles, porque eu não conhecia nada do Brasil.
Como foi experiência de morar no Brasil e em Florianópolis? O que você viu de novidade, o que mais gostou…
Como era uma primeira vez, não sabia nada quando cheguei. Nem tinha preconceitos. Sabia que o Brasil é muito grande, então podia ser várias coisas. Eu gostei muito de morar aqui em Florianópolis, porque é um lugar maravilhoso e também porque tem qualidade de vida. Mas tentei também descobrir outras cidades e outros lugares, para fazer comparações. Fui a Manaus, fui a Brasília, Porto Alegre, São Paulo, Recife pra ver um pouco. Descobri muitas coisas já. O Brasil é muitas coisas ao mesmo tempo. Foi bem interessante viajar assim para ver como são as paisagens, o clima, as pessoas… Tudo muda. Em um estado diferente, tudo é diferente. O que também gostei aqui e que não tem mais na França e que está se perdendo é a relação humana, a relação com as pessoas.
Em que sentido?
Elas [as pessoas] são mais próximas. Acho que vocês já sabem disso, né? (risos) Eu sou assim na França. Encontrei aqui pessoas que também são assim, que falam com as pessoas, que abraçam e tudo. E eu gostei disso e acho que vou sentir falta quando voltar. Vou tentar levar isso comigo para a França.
Como você avalia o curso? Você conseguiu cumprir o tinha planejado para o curso? O que pode melhorar?
Fizemos muitas coisas. Fizemos um nível inteiro e depois as provas finais, que é uma prova reconhecida na França. Daí eles [os alunos] vão passar para um nível superior. Quase a metade dos alunos vão conseguir. A outra metade desistiu. Sabe por quê? É um curso de graça e opcional. Então, acho que o resultado é bom porque temos ainda a metade dos alunos em um curso opcional e de graça. É bom, acho, como resultado.
O que vocês trabalharam no nível básico?
Vamos dizer que agora eles sabem se apresentar, falar deles, da família deles, da profissão, descrever as pessoas fisicamente e sobre a personalidade também, falar dos lazeres deles, das atividades deles… Sabem contar, orientar-se, pedir um endereço, comprar coisas em um lugar… O vocabulário da cidade, do corpo, as cores, tudo que precisa para se virar num lugar para onde você viaja.
E no nível intermediário?
No nível intermediário são pessoas que já falam o francês e que às vezes já foram para a França e só precisavam praticar. Fiz mais atividades de prática oral e gramática para melhorar também o que faltava… Era mais adaptado para o que eles precisavam. O nível básico era mais para quem quer fazer um intercâmbio, para quem quer passar para um nível superior.
É fácil aprender o francês? O que os teus alunos estrangeiros costumam falar sobre o aprendizado do francês?
Eu fiquei muito surpresa. Sabes que fizemos a Semana da Francofonia… Não tem só a língua, tem a cultura também e eu insisti muito sobre isso durante o ano. A gente falou muito sobre como eu faço na França… A gente compara sempre, porque eles são muito curiosos de saber como funciona. Organizamos a Semana da Francofonia para mostrar a eles que não tem só a França que fala francês. Muitos outros países, da África, o Canadá, para mostrar que tem muitas oportunidades para eles. E fizemos muitas coisas sobre gastronomia, sobre os vinhos franceses, sobre as regiões da França… Eles gostaram bastante. E nesta Semana [da Francofonia], que foi um sucesso no IFSC, eles gravaram vídeos para mim sobre o que é o francês para eles. E vários disseram que era fácil aprender francês. E eu fiquei surpresa, porque nunca ouvi isso na minha vida! O francês não é fácil. Tem gramática e conjugações difíceis e tudo. Só que eles achavam fácil porque na aula, como eu falo um pouco de português, eu não parei de falar português com eles na sala. Falava as duas línguas. E com o fato de eu errar em português, eles tinham mais confiança para errar em francês, daí foi uma mistura assim, pouco a pouco, e isso foi bem legal. Eles observaram as coisas parecidas entre as nossas línguas, que têm as mesmas raízes. Eles acharam muito fácil e tentaram. Quando eles não sabiam uma palavra, eles tentavam dizer, porque eles sabem que vai ser perto por causa da raiz latina. Acho que é por isso: porque eles têm confiança. E foi um resultado incrível, porque agora tem alunos que têm paixão pelo francês. É incrível. Tem vários que já em setembro vão para a França para fazer intercâmbio, ou então ano que vem. Estou muito feliz por isso.
O inglês é tido como a língua internacional. Cresceu nos últimos anos também o ensino do mandarim, até por motivos comerciais, com o crescimento econômico da China. Por que, na sua opinião, é importante estudar francês?
Eu não concordo com essa história de língua internacional. Por que eu vou aprender o mandarim, se todos eles já falam inglês na China? Mas, tudo bem, que cada pessoa escolha a língua que ela quer aprender, sem problema. E o inglês, eu diria, é mais por causa da mundialização e do comércio. Só que acho que uma língua é interessante de ensinar. Eu tenho essa profissão porque gosto da minha língua e gosto de ensinar minha língua porque acho que cada língua não pode desaparecer. Com uma língua que vai servir para todos, a gente esquece as outras línguas. E com a língua tem a cultura. Então, tem várias línguas que estão desparecendo no mundo por causa disso, porque elas não têm mais o vocabulário para falar as coisas, porque tem outra língua que vai chegar no lugar dela. O que se perde não são só as palavras e a língua, mas também a cultura que tem dentro delas. Vários povos são ameaçados com isso. É por isso que acho bom aprender o maior número de línguas possível. Uma língua também é, como sempre falo, uma janela aberta para o mundo. Quantas línguas você aprende e quantas janelas elas abrem para o mundo? Não precisa falar só uma língua, mas várias, para abrir a mente e essas janelas para o mundo.
Quais são seus planos futuros, quando voltar para a França?
Primeiro vou voltar para fazer minha dissertação de mestrado e apresentá-la em setembro. Depois, ainda não sei, porque tenho ofertas do mundo inteiro. Só que achei que esse ano aqui foi um desafio, porque eu era a primeira para iniciar o programa e tudo. A gente falou com a Ana [Lúcia Machado, servidora da Coordenadoria de Assuntos Internacionais, na Reitoria] e com toda a comissão do francês que me ajuda e tudo e eu disse que talvez, se tiver a possibilidade aqui dentro do IFSC de voltar pra criar um verdadeiro programa dentro do IFSC, um programa de francês, e talvez também ampliar para toda Santa Catarina, para os outros câmpus do Instituto Federal, eu voltaria de boa (risos). Foi muito interessante, construímos muitas coisas, criamos muitas coisas, aprendi muito, os outros também – acho que foi uma troca – e acho que tem mais coisas pra fazer aqui no IFSC, porque seria bom criar um programa de francês. Aqui todos os anos vai chegar o estagiário, que, claro, com uma professora ou um professor fixo, com um programa – como tem, acho, que com o espanhol e o inglês já existe aqui – acho que seria bom pra internacionalização do IFSC. Tem vários câmpus também e tem tanto interesse! Eu tinha 300 inscritos no início, em setembro, por isso fizemos sorteio, porque só tem uma professora, então não era possível atender 300 alunos. Mas tem um interesse realmente forte na língua e na cultura francesa e acho que o que fizemos neste ano foi reforçar essa ligação franco-brasileira e foi bom.
A Julie vai deixar exemplos, saudades e ímpeto de continuidade do projeto. Sempre ficamos apreensivos com quem receberemos, se vai nos entender como país, como instituição, como povo e como pessoas, pois a competência profissional já é presumida pela formação. Que boa surpresa foi termo recebido justamente ela, alguém que teve toda a sensibilidade necessária para nossa empreitada.
Julie será sempre bem-vinda, e certamente a amizade construída sempre avivará as relações estabelecidas!
A Professora Julie Godard nos deu muitas alegrias. Ela foi parceira incansável nesta iniciativa de começar a ofertar aulas de Francês. Julie é estudiosa e comprometida. Ela procurou entender os alunos e inovou durante as aulas, com jogos e utilizando o método do “Professor reflexivo”. Também usou a descentração, método que inicia com o protagonismo do Professor e aos poucos transfere esta posição para os alunos. Organizou também atividades culturais paralelamente ao curso.
Julie nos contou sua trajetória profissional e percebemos que tem consciência social.
Enfim, é profissional responsável e crítica.
Agradecemos aos gestores que reconheceram nesta ação uma oportunidade relevante de formação em língua francesa, que pode ser oferecida a alunos e servidores do IFSC. Estes gestores investiram na bolsa que foi paga à professora e apoiaram as ações da Comissão França, composta por servidores da Reitoria, do Câmpus Continente, do Câmpus Florianópolis e do Câmpus São José.
Portanto, obrigada ao Pró Reitor Mário Noronha, diretores Nelda Plentz, Marcílio Lourenço da Cunha, Maurício Gariba Júnior, Prof. Luiz Henrique Carlson e Professora Julie Godard. Esperamos tê-la de volta.