Memórias não se Aposentam: para Carlos Besen, a música é necessidade do ser humano
21. agosto 2015 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, MatériasO IFSC apresenta mais uma entrevista do projeto “Memórias não se Aposentam”*, desta vez falando de música e educação musical. O maestro Carlos Besen conta como foi criado o Coral da Escola Técnica:
O professor, regente, compositor e arranjador Carlos Besen, em Florianópolis desde 1976, dedicou sua vida à educação musical dos jovens,compondo, resgatando temas do folclore catarinense, arranjando e ambientando para coro peças do cancioneiro popular de grandes nomes como Ary Barroso, Dorival Caymmi, Pixinguinha, Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Caetano Veloso, Luiz Vieira e outros, inclusive compositores catarinenses como: Orlando Melo (Neco) e Alison Mota (ambos do Grupo Engenho), Jorge Coelho, Maestro Moacir Marques (Regente da Banda Marcial da ETFSC), Osvaldo Ferreira de Melo, entre outros.
Membro da academia catarinense de Letras e Artes (ACLA) desde 2014, na cadeira 37, mesmo após sua aposentadoria, continua dedicando-se à pesquisa e composição, além de participar em eventos artísticos e culturais da cidade.
Natural de Santa Catarina, da cidade de Antônio Carlos, sua vocação para a música teve relevante influência do ambiente familiar, especialmente de sua mãe, Sophia Besen, regente de coral. Sua família formava um conjunto vocal de nove vozes (dos sete irmãos, quatro escolheram a música como profissão). Esta estrutura familiar deu grande suporte à sua carreira, especialmente em Florianópolis. Antes, porém, durante os estudos em Curitiba e São Paulo, onde graduou-se em Filosofia e Música, trabalhava como educador musical, regendo coros infanto-juvenis nos colégios e ginásios.
Sua atividade como educador musical e sua produção artística foi contemplada com o prêmio Elisabeth Arderle2014/2015 (FCCSC) onde está em produção um documentário, pelo Instituto Polyphonia Khoros, sobre sua trajetória artística e educacional e seu papel na memória cultural catarinense.
A música na Escola Técnica
Em 1978, quando estava à frente do coral do Instituto Estadual de Educação, que fundou em 1976, Besen foi procurado pelo então diretor Frederico Büendgens para formar um coral com os alunos da Escola Técnica Federal. “Fui convidado para formar o coral, mas eu não queria que fosse só isso, mas que fosse um laboratório musical com várias atividades: coral, leitura musical, apreciação musical e aulas de instrumento, como flauta doce”.
Assim, formou-se uma equipe com o maestro Besen (regente titular), a maestrina Mércia Mafra Ferreira e a professora Maria da Graça Besen Petry. Um dos projetos de Besen foi a criação de um curso técnico em Música. Porém, na época, o projeto não foi concretizado.
Desde o início, o interesse e dedicação pelo canto coral teve grande aceitação por parte dos alunos e da escola técnica em geral. A variedade do repertório, que abrangia literatura musical específica para coro (música erudita – clássica), popular, folclórica e sacra), foi importante na educação estético-musical do grupo e repercutiu positivamente na carreira de muitos alunos, hoje, músicos profissionais (professores, instrumentistas, regentes, cantores, compositores e agentes culturais).
O coral torna-se importante veículo de integração cultural da escola com a comunidade, participando de apresentações como a Semana do Técnico, Semana do Meio Ambiente, recitas no teatro, participação no ciclo de interpretes catarinenses (Pró Música de Florianópolis) e muitos outros eventos em asilos, praças públicas, igrejas e viagens (Goiás, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, entre outros).
Besen conta que se formou uma verdadeira “tribo” de coralistas, muitas amizades e até casamentos. Há um grupo representativo que hoje são músicos profissionais e cantores de vários corais da cidade e do estado. “Me alegra muito, pois me encontro com frequência com ex-coralistas que me agradecem muito pela oportunidade que tiveram de cantar comigo na escola técnica federal. Isto para mim é muito gratificante”.
Besen fez pós-graduação e mestrado em Música na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Em 1991, defendeu a dissertação de mestrado com o título “Educação musical na visão de Villa-Lobos”. “Sempre tive por Villa-Lobos uma grande admiração e respeito, pois ele entendia a importânciado papel da educação musical na criança e nos jovens, criando um dos maiores projetos de educação musical no país: O Canto Orfeônico.
A música na Florianópolis dos anos 80
A chegada de Besen à Escola Técnica coincidiu com um período de grande efervescência no cenário musical de Florianópolis. Foi no final dos anos 70 e na década de 80 que houve um incremento do canto coral nas escolas, havendo, nesse período, um festival de corais (1977 a 1983) promovido pela Secretaria de Educação (1ª Ucre).
É criada na Udesc a escola de música, onde o maestro Besen era o regente titular da Orquestra e do Coral da Udesc, além de coordenar importantes projetos culturais em convenio com o Instituto Nacional de Música (Funarte) do qual o Coral da Escola Técnica também participou.
Neste período, a Pró Música de Florianópolis, criada por Darci Brasiliano dos Santos, foi um grande agente de divulgação da música erudita, tendo o coral da escola técnica participado de diversas apresentações.
A música é para todos
Segundo Besen, qualquer pessoa pode cantar: “quem consegue falar, pode cantar, não existe gente desafinada. Normalmente a pessoa é desafinada porque o pai e a mãe não cantam em casa. Não sei se todos, mas pelo menos comigo, tive casos assim”. Ele conta que teve vários alunos que começaram a cantar eram desafinados, ou melhor, sem voz: “Só saia ronco”, recorda. Muitos desses são professores e cantores profissionais com carreira destacada na cidade. “Esses ex-alunos meus, jovens adolescentes, devem me agradecer muito, pois eu os aceitei no coral mesmo desafinados”, recorda.
O professor explica que Santa Catarinaéprivilegiada. A música coral é muito apreciada e praticada no Estado. “Em Florianópolis, particularmente, temos uma cultura popular e folclórica única, graças a influência da comunidade açoriana, com o terno de reis, ratoeira, boi de mamão) e de compositores ilhéus de grande projeção nacional e internacional”, destaca. Muitas dessas músicas foram pesquisadas e arranjadas para coro pelo maestro Carlos Besen.
* A série de entrevistas “Memórias não se Aposentam”é um projeto do Centro de Memória, Documentação e Cultura do IFSC (CMDC – IFSC). O objetivo é preservar um patrimônio valioso: a memória dos servidores aposentados, que muito contribuíram para a instituição ser o que é hoje, e resgatar fatos que marcaram a história do IFSC na visão de seus protagonistas. A série é publicada no Portal do IFSC e no Link Digital quinzenalmente, às sextas-feiras.