Projeto de extensão do Câmpus Lages descobre novas formas de beneficiamento da batata yacon

3. setembro 2015 | Escrito por | Categoria: Câmpus Lages, Matérias

batata-lages“Agora sou um especialista em batata”, assim se define o aluno Agnaldo Tadeu Borges da Silva. A expertise adquirida se dá pelo um ano de pesquisas, leituras e experiências com a batata yacon, espécie de hortaliça originária dos Andes e que vem sendo cultivada no Câmpus como parte do projeto de extensão “Produção orgânica de alimentos funcionais: IFSC/Lages e agricultores familiares em prol da saúde”.

Se o ditado diz que “a vida começa aos 40”, para Agnaldo, que é aluno do Técnico em Biotecnologia do Câmpus Lages e do Superior em Viticultura e Enologia do Câmpus Urupema, ele pode ser adaptado para “a vida (acadêmica) começa aos 60”. Agricultor aposentado, estava há 30 anos longe da sala de aula, mas decidiu voltar a estudar quando soube dos cursos do IFSC.

Ele descobriu a batata yacon em uma visita ao Instituto Federal Catarinense – Câmpus Santa Rosa do Sul para uma palestra com um pesquisador da Serra Catarinense que estuda sobre a viabilidade de espécies para o plantio na região. “Ele disse que há umas 65 viáveis. E uma que ele falou muito bem foi a batata yacon, explicando suas propriedades, principalmente no controle da glicemia. À época eu estava acima do peso e com os níveis de açúcar no sangue um pouco altos, então resolvi experimentar”.

batata-lages2Seu Agnaldo, como é conhecido no Câmpus, trouxe então uma bandeja do chips (forma desidratada do alimento) da batata yacon e fez uso durante um mês, respeitando a dose diária de 20g. Em trinta dias, emagreceu quatro quilos e conseguiu controlar a glicemia.

“A batata yacon se enquadra como alimento funcional. O papel dos alimentos é a nutrição, os funcionais são aqueles que, além disso, geram benefícios à saúde atuando na prevenção e combate a doenças”, explica a farmacêutica e professora de processamento de alimentos do Câmpus Lages do IFSC, Ana Paula de Lima Veeck, que também é colaboradora do projeto.

O alimento é conhecido comercialmente como “batata diet”, devido ao seu baixo índice glicêmico. A professora Ana explica que ela é rica em um carboidrato indigerível pelo organismo, passando por todo o trato intestinal sem absorver açúcar, sendo uma fonte de fibra alimentar. “Além disso, tem efeito antioxidante, que retarda o envelhecimento celular, semelhante ao encontrado no vinho”, explica.

Depois de descobrir essas propriedades da yacon, Seu Agnaldo decidiu seguir com o hábito de consumi-la, mas aí… “fui comprar mais. Só um supermercado em Lages tinha, mas custava R$ 14 o quilo. Agricultor, com salário mínimo, não tive condições de comprar”, lembra. O alto custo do produto foi o início da parceria para começar a plantação no Câmpus. Ele então foi conversar com o Técnico em Agropecuária do IFSC Lages, Fábio Júnior Nunes, para consultar a possibilidade de plantar a yacon. Daí surgiu o projeto, tendo as primeiras mudas sido adquiridas no Assentamento Pátria Livre, em Correia Pinto.

Fácil adaptação

A batata yacon se sentiu em casa em solo lageano. Já nas colheitas iniciais, o tubérculo surpreendeu pela rapidez e tamanho das primeiras unidades. “A literatura que pesquisamos diz que ela demora em torno de 35 semanas para atingir a forma ideal de consumo. Aqui no câmpus já podemos colhê-la com 25”, explica Fábio Júnior.

batata-lages3Fábio conta que a plantação da batata foi feita totalmente de forma orgânica, sem uso de aditivos químicos. Inclusive o controle de pragas foi realizado de forma natural, tendo plantado o açafrão, que possui uma propriedade que repele os insetos, nas proximidades da batata.

Atualmente, são colhidos em média 14 quilos de batata yacon por metro quadrado de plantação, um índice maior que o registrado em pesquisas anteriores. “Isso dá mais de 120 toneladas por hectare, enquanto em outros locais são registrados por volta de 80”, comemora Fábio.

Preocupação com a estética

batata-lages4Quando provou a primeira vez, Seu Agnaldo não gostou da aparência. “Trouxe para casa e minha filha disse que parecia asa de morcego (risos)”. Com isso, ele pensou em melhorar esse quesito para agregar valor comercial ao produto. Quando cortada, a batata yacon oxida, deixando-a com a aparência escura, semelhante à maça. Após testes com diferentes substâncias, verificou-se que se colocada de molho em uma solução de limão reduzido em água (10% de suco e 90% de água), a batata adquire um coloração mais clara, sem afetar o gosto ou suas propriedades.

A partir daí, abriu-se um infinitos de possibilidades para sua comercialização. Há muita literatura a respeito, de modo que o projeto do Câmpus Lages preocupou-se em colocar em prática novas formas de aproveitamento da batata. Normalmente, a batata yacon é encontrada, além da forma in natura, como chips (desidratado), farinha e xarope. Após várias experiências no laboratório de processamento de alimentos do câmpus, os participantes do projeto conseguiram separar a polpa da batata yacon. Com isso, o aproveitamento do produto se potencializa. Além das formas tradicionais, já são produzidos no IFSC o suco, o sorvete, o bolo (integral, tradicional e na forma sem glúten), a geleia e a variação salgada do chips.

Outros produtos do projeto

batata-lages5O projeto também trabalha com outros produtos, como o açafrão, araruta e a pitaya, também conhecida comercialmente como “the dragon fruit”. O intuito é atuar em parceria com os agricultores da região e difundir a melhor forma para o aproveitamento e gerar renda às famílias. “Também, aumentando a oferta, vai diminuir o valor comercial. Assim o preço ficará acessível e todos poderão aproveitar os benefícios desses produtos”.

Yacon na comunidade

Uma das intenções do projeto é criar um banco de germoplasma, onde as mudas dos produtos ficam à disposição dos agricultores para serem retiradas e plantadas em suas propriedades. Nessa primeira etapa, foram cadastrados cinco propriedades da região para receberem as mudas e o acompanhamento da produção. Uma delas é o Assentamento Pátria Livra, de Correia Pinto, que foi quem forneceu as primeiras mudas da yacon para o Projeto.

batata-lages6“A procura é grande. Toda semana nós a colocamos à venda e o pessoal tem gostado. Quando não tem disponível na feira, os clientes cobram da gente”, explica Lucia Fátima Maranho, que faz parte do grupo de agroeceologia do assentamento. O grupo organiza uma feira todas as quartas-feiras, na Praça da cidade, onde vende o quilo da batata yacon por 5 reais. O assentamento também recebeu mudas de araruta e açafrão, que ainda precisam de tempo para a colheita ideal.

Além de vender a yacon, a propriedade também conseguiu incluir o produto na merenda escolar do município por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). De acordo com o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), que é o órgão que administra o PNAE, 30% do orçamento do programa deve ser investido na compra direta de produtos da agricultura familiar, medida que estimula o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades. “Quando abriu a chamada pública dos produtos do PNAE nós inscrevemos a yacon na lista e ela foi aprovada, já estando disponível para as crianças da rede pública de ensino”, finaliza Lucia.

Portanto, se você estiver por Lages nos próximos dias e alguém lhe mandar “plantar batata”, pense duas vezes antes de retrucar. Essa pessoa pode estar desejando o melhor para sua saúde e o seu bolso.

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