Projeto do Câmpus Canoinhas estuda relação entre a qualidade da água e a qualidade do leite produzido
18. novembro 2015 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Canoinhas, MatériasO Câmpus Canoinhas do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em parceria com a Epagri, Sisclaf-Plan, UnC e Amplanorte, desenvolve um projeto de extensão, fomentado pelo CNPq, que avalia a qualidade do leite e da água utilizada na dessedentação dos animais e na higiene dos utensílios e equipamentos de ordenha.
Conforme a professora e coordenadora do curso superior de tecnologia em Alimentos, Cleoci Beninca, até o momento foram atendidos produtores dos municípios de Bela Vista do Toldo, Canoinhas, Irineópolis, Major Vieira, Monte Castelo, Porto União e Três Barras.
Em seu artigo “A qualidade da água pode comprometer a qualidade do leite?”, ela explica que, dentro do enfoque fisiológico, um bovino de leite, dependendo de vários fatores como tamanho corporal, condição de clima, ingestão de sal e proteína na dieta, poderá requerer entre 40 e 120 litros por dia somente para seu consumo.
“Quando se utiliza água de má qualidade nas atividades relacionadas à produção de leite, coloca−se em risco a qualidade final do produto, pois este importante solvente, se empregado fora dos padrões de potabilidade, poderá afetar a sanidade animal e alterar a qualidade higiênica em cada etapa da produção”, explica Cleoci.
Todas as atividades deste projeto desenvolvido pelo Câmpus Canoinhas estão relacionadas ao Programa Planorte Leite, que visa estimular o desenvolvimento integrado e sustentável do Planalto Norte Catarinense, por meio do fomento da cadeia produtiva do leite, promovendo a organização das instituições, entidades e produtores, com base na produção diferenciada, a fim de gerar renda e sustentabilidade econômica, social e ambiental.
Leia abaixo o artigo completo.
A qualidade da água pode comprometer a qualidade do leite?
* Cleoci Beninca, coordenadora do Curso Superior de Tecnologia em Alimentos do Câmpus Canoinhas do IFSC e professora do ensino básico, técnico e tecnológico
Muitas vezes, quando pensamos em obter um produto de qualidade, direcionamos os nossos sentidos aos processos industriais, dando evidência aos procedimentos e tecnologias adotados para processamento do produto até a chegada ao consumidor. Neste mesmo sentido podemos, quando articulamos a cadeia produtiva do leite, elencar fatores secundários no que tangem a sua qualidade.
A qualidade do leite é definida por parâmetros físicos, químicos e microbiológicos. A presença e os teores de proteína, gordura, lactose, sais minerais e vitaminas determinam a qualidade da composição, que, por sua vez, é influenciada pela alimentação, manejo, genética e raça do animal. Atividades ligadas a cada animal, como o período de lactação, situações de estresse, etc, também são importantes quanto à qualidade composicional.
Fatores citados acima, principalmente os que se referem à composição nutricional e qualidade higiênica, geralmente são lembrados quando pensamos em qualidade do leite. Mas e a água? Este recurso natural essencial como meio de vida de várias espécies vegetais e animais, como elemento representativo de valores sociais e culturais, o que tem a ver com a qualidade final do produto na cadeia leiteira?
Dentro do enfoque fisiológico, um bovino de leite, dependendo de vários fatores como tamanho corporal, condição de clima, ingestão de sal e proteína na dieta, poderá requerer entre 40 e 120 litros por dia somente para seu consumo. Como principal nutriente aos animais, a água mantém o volume normal de sangue, as funções dos órgãos e sentidos, ajuda na digestão e absorção dos nutrientes e mantém a funcionalidade do rumem.
Além de servir como fonte de dessedentação animal, em outra abordagem, a água também assume grande importância, pois é fundamental nas atividades relacionadas ao manejo da ordenha e higienização das instalações e equipamentos.
Em condições naturais, a água contém diversos componentes, os quais provêm do próprio ambiente ou foram introduzidos a partir de atividades antrópicas. Estes componentes caracterizam a água quanto aos aspectos de qualidade, e são chamados de parâmetros físicos, químicos e biológicos.
Quando utiliza−se de água de má qualidade nas atividades relacionadas à produção de leite coloca−se em risco a qualidade final do produto, pois este importante solvente, se empregado fora dos padrões de potabilidade, poderá afetar a sanidade animal e alterar a qualidade higiênica em cada etapa da produção.
A água pode servir de veículo para microrganismos patogênicos, podendo ser relacionada ao surgimento de mastite em bovinos e com o consequente aumento das células somáticas no leite. Estes microrganismos patogênicos podem também contaminar os equipamentos de ordenha e refrigeração, interferindo no bem-estar não somente dos animais, mas de todo corpo de trabalho envolvido. Além disso, o excesso de sólidos na água (detritos e material em suspensão) pode, também, aumentar a ingestão de minerais pelos animais, levando ao acúmulo destes nos órgãos e causar complicações fisiológicas. A chamada “pedra de leite” também pode estar relacionada com a utilização de água de má qualidade, quando do excesso de sais de cálcio e magnésio dissolvidos na mesma.
Desta forma, em todas as etapas da cadeia produtiva do leite, a água utilizada deve ser de boa qualidade e apresentar, obrigatoriamente, as características de potabilidade fixadas na legislação.
A utilização de água potável está intrinsecamente relacionada à obtenção de leite de boa qualidade, pois desta forma pode preservar-se os valores nutritivos desse alimento, impedir que os microrganismos prejudiciais possam contaminá-lo e alterar sua composição, sabor e aparência, aumentar sua vida útil e reduzir os riscos aos bovinos de leite e à saúde da população.