Professora do Câmpus Lages recebe certificação por capacitação na Finlândia
18. dezembro 2015 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Lages, Gestão de Pessoas, MatériasDe 9 a 11 de dezembro, a professora de administração do IFSC Lages Joelma Kremer esteve em João Pessoa, na Paraíba, participando do Workshop Internacional de Inovação na Educação Profissional, realizado pelo Instituto Federal da Paraíba. No evento, ela e os demais professores que participaram do Programa Professores para o Futuro Brasil/Finlândia apresentaram oficinas relacionadas às metodologias aprendidas durante os cinco meses de intercâmbio.
Este ano, a professora foi contemplada com uma bolsa para capacitação na Finlândia, sendo selecionada pelo CNPQ para a segunda edição do Programa Professores para o Futuro. Joelma esteve entre os 35 professores brasileiros selecionados, sendo a única de Santa Catarina. Na Paraíba, ela participou como um dos facilitadores da oficina 1 – E-Learning: Metodologias e Ferramentas na Educação, junto com os seus colegas Gustavo Prado (de Minas Gerais), Marcos Balduíno Alvarenga (de Tocantins), Damione Damito (de São Paulo) e Sávio Felipe (do Ceará). “A oficina foi bastante prestigiada e repetida para uma segunda turma no terceiro dia do evento”, conta Joelma.
O evento também marcou a avaliação dos trabalhos realizados na Finlândia e o encerramento e certificação de conclusão do programa. Até o dia 25 de janeiro de 2016 estão abertas novas inscrições para participar do Programa Professores do Futuro. Interessados devem acessar o site do CNPq.
Professores do Futuro
Joelma ficou cinco meses na Universidade TAMK, localizada em Tampere. Lá, a docente conheceu técnicas usadas no ensino profissional e tecnológico finlandês, referência mundial no assunto, principalmente pela proximidade da educação com a indústria, e visitou instituições de ensino de diferentes níveis para conferir a aplicação dessas técnicas.
“Nós fizemos uma capacitação pedagógica mesmo. Lá, efetivamente, nós estudamos metodologias de ensino, do fundamental ao superior, passando pelo ensino tecnológico”. Joelma conta que no país há muita diferença em relação ao Brasil no que diz respeito à formação educacional das pessoas. Segundo ela, os finlandeses têm objetivos bem diferentes quando pensam em qualificação para o marcado de trabalho. “Na Finlândia eles não têm essa pressão de fazer um curso superior. Eu conversei com um rapaz no ônibus, certo dia, e ele me confessou que não pretende fazer faculdade, que ele quer mesmo é ser mecânico de automóveis. Isso é causado pela pouca diferença de remuneração entre quem tem o ensino superior e quem tem o ensino técnico”, completa.
Na visão da professora, os finlandeses escolhem a profissão pela vocação, por gostar trabalho que fazem e não pelo dinheiro. No entanto, o curso técnico é imperativo para você entrar no mercado profissional. “Motoristas de ônibus, atendentes de lanchonetes, todos eles têm cursos técnicos”.
Sistema de ensino
Joelma realizou a capacitação em uma universidade com foco na carreira tecnológica. Ela relata que a os cursos não têm o modelo de aula tradicional, onde o professor expõe e os alunos absorvem o conteúdo por anotações e material didático. A maior parte dos cursos é prática, onde eles aprendem fazendo. “O curso todo é como se fosse um projeto. Em cada semestre, em vez dos alunos terem disciplinas como física, matemática, programação, eles têm que produzir um projeto. Com esse projeto, eles acabam adquirindo os conhecimentos dessas disciplinas, tudo interconectado com o tema do projeto e tendo os professores como tutores desse aprendizado”, reforça.
Para aplicar essa metodologia, os finlandeses usam o PBL (Project Base Learn – aprendizado baseado em projetos, em tradução livre). Além disso, outras ferramentas são usadas, como Gallery Walk e tecnologias de E-Learning (aprendizagem virtual) e os participantes da capacitação visitaram universidades e escolas da cidade e viram que esses métodos são usados em todas as idades. Joelma contra que há cursos superiores que são inteiramente ofertados dessa forma.
As diferenças não param por aí. Em sala, os alunos trabalham em grupos de 5 estudantes. As turmas tem entre 40 e 50 alunos, mas há a divisão em grupos e os calendários são diferentes, onde cada grupo tem um calendário específico.
Aplicação no IFSC
Assim que retornou da Finlândia, Joelma propôs uma capacitação para os professores do Câmpus Lages sobre o que foi aprendido na Europa, principalmente com relação ao ensino centrado no estudante, não no professor. A atividade foi realizada em setembro deste ano. “Para trabalhar desta forma, você deve se subsidiar com tecnologias. Usando bases de dados da internet, distribuídas gratuitamente, você pode tornar a aula mais dinâmica e estimular o estudante a buscar seu aprendizado. Hoje, quem mais aprende numa aula é o professor. Ele busca, pesquisa, prepara a aula e o estudante vira uma passageiro nessa viagem”, comenta.
Além da capacitação aos colegas, a professora já começou a inserir métodos finlandeses no nas aulas dos cursos técnicos e superiores do IFSC Lages. “Já disse a eles (alunos) que não vai ter aula na qual eu vou falar o tempo todo. Haverá avaliações e elas serão baseadas nos conceitos dados em sala, mas eles terão atividades a serem desenvolvidas individualmente em seus blogs pessoais e em conjunto, na sala. A ideia é que eles sejam estimulados a usar o conteúdo durante o semestre, não apenas às vésperas das avaliações”, explica.
Para a professora, o importante é que os alunos fiquem a maior parte do tempo discutindo, debatendo, pesquisando. “O debate é uma forma de aprender. Dê temas contraditórios para os estudantes e peça para defenderem seu ponto de vista. Os resultados são ótimos”, comenta.
Cultura
Joelma conta que os professores brasileiros foram tratados com muito respeito pelos de lá. Muitos tinham curiosidade em saber das experiências trazidas do Brasil. Para Joelma, muitos deles não entendiam o desafio de fazer a educação brasileira. “A Finlândia tem 5 milhões de habitantes, equivalente à Santa Catarina, então fica relativamente mais fácil resolver certos problemas. É uma realidade muito diferente da nossa. A confiança (trust) está no centro da administração para a sociedade finlandesa. Lá as pessoas confiam mais umas nas outras, confiam que não serão roubadas, vilipendiadas, e isso se reflete em todos os aspectos da sociedade”, revela.
Outro aspecto curioso da Finlândia era o clima. O país, localizado no extremo-norte da Europa, possui tanto a temperatura, quanto o “formato” do dia muito diferentes do Brasil. “Quando eu cheguei, estávamos em uma época do ano onde havia apenas quatro horas de sol por dia. Depois, passou a ter sol o dia inteiro. Foram praticamente quatro meses sem ver a noite”, disse.
A experiência também serviu para a melhora na fluência da língua inglesa. As aulas eram todas ministradas no idioma, assim como o material didático e o blog pessoal de cada participante deveria ser alimentado em inglês também. “O projeto continua até dezembro e por isso estou mantendo o blog e os escrevendo em Inglês e português para que a professora possa acompanhar as atividades lá da Finlândia”.
Destaque em publicações
A edição da Revista Veja (2431 – junho de 2015) traz a matéria especial “Voando para o Futuro”, que mostra o alto nível da educação finlandesa e quais mecanismos o país da Escandinávia utiliza para atingir tamanha excelência. Uma das entrevistadas para a reportagem foi a professora Joelma Kremer. “Aqui os alunos desenvolvem projetos junto a empresas e fazem pesquisa para valer, tudo muito eficaz e conectado ao mundo real”, disse Joelma à reportagem. Além da publicação, a participação da professora Joelma também foi destaque em matéria publicada pela veículo britânico BBC, com o título “Oito coisas que aprendi com a educação na Finlândia”. Também esteve na capa da revista publicada pela universidade finlandesa.