Mestrado em Proteção Radiológica inicia primeira turma

21. março 2016 | Escrito por | Categoria: Câmpus Florianópolis, Matérias
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Primeiros alunos e professores do mestrado em Proteção Radiológica

A primeira turma do mestrado em Proteção Radiológica, do Câmpus Florianópolis do IFSC, iniciou suas atividades na sexta-feira (18) com solenidade de abertura e palestras. A primeira turma terá 10 alunos e 10 professores. A área de concentração do mestrado é Radiologia Médica, com linhas de pesquisa em Proteção Radiológica e Tecnologia Radiológica.

Segundo o coordenador do curso, professor Flávio Augusto Penna Soares, a intenção foi criar um mestrado profissional, no qual os alunos realizarão suas pesquisas a partir de levantamento de necessidades em suas áreas de atuação. Por isso as aulas serão ministradas em horários especiais, nas sextas-feiras à noite e nos sábados, para atender aos alunos que trabalham.

Soares explica que a maior parte da tecnologia em radiologia no Brasil, seja para diagnóstico em saúde ou tratamento, como a radioterapia, é importada. Por outro lado, a questão da proteção radiológica deixa a desejar, seja em relação aos profissionais quanto a proteção dos usuários. “Como professor, muitas vezes verificamos o mau uso da proteção radiológica, desde o técnico, o técnico em enfermagem, enfermeiro ou o médico. Há uma legislação razoável, mas não se aplica”, alerta.

O aluno do mestrado Alyson Marcos Gelsleichter formou-se em 2000 no curso técnico em Radiologia no Câmpus Florianópolis. Em 2002, foi aprovado no concurso para técnico no Hospital Universitário de Florianópolis e, em 2003 ingressou na primeira turma do curso superior de tecnologia em Radiologia. Mais tarde, começou a atuar também no Hospital Nereu Ramos. Agora, volta ao IFSC para atualizar conhecimentos na área, visto que no HU é membro da Comissão de Proteção Radiológica. Quando estava na graduação, Alyson foi colega de turma de alguns professores do mestrado. Na época, como já tinha passado pelo curso técnico e atuava na área, ele dava dicas aos colegas, agora, seus futuros professores. “É sempre uma troca. Conhecimento é algo que a gente pode dividir e ele só aumenta”, destaca. Alyson pretende estudar a necessidade de exames radiológicos admissionais em empresas.

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Solenidade de abertura do mestrado

O processo seletivo para o mestrado teve 23 inscritos. A maioria dos selecionados é da região da Grande Florianópolis, mas há quem tenha vindo de longe, como Lilian Lettiere veio de Teresina, Piauí. “Esse mestrado é algo inovador na nossa área, por ser profissional. Vai servir de exemplo e impulsionar outras instituições”, afirma. Lilian trabalha no Hospital Regional Norte, em Sobral, no Ceará. Ela pretende pesquisar a proteção radiológica no atendimento a crianças de zero a 10 anos, faixa etária em que a sensibilidade à radiação é maior que em adultos. “Há poucas publicações no Brasil nessa área. Na Europa, existe até dose específica para crianças. No Brasil, isso já não tem”, informa.

A presidente do Conselho Regional de Técnicos em Radiologia, Vanderleia Silva Souza, também esteve presente na solenidade de abertura do curso. Ex-aluna do IFSC, ela destacou que “a educação continuada é uma exigência da profissão”, que envolve tecnologias sempre em evolução.

Além da cerimônia de abertura, os alunos participaram de três palestras: “O uso da metodologia Monte Carlo na pesquisa científica”, “Radioproteção ambiental” e “Uso de base de dados na pesquisa científica”.

Preocupação coma proteção radiológica surgiu há 100 anos

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Palestra com a pesquisadora do Ipen/SP, Márcia Campos

A utilização da radioatividade para diagnóstico e tratamentos em saúde é conhecida desde o século 19. Porém, somente a partir da segunda década do século 20 é que começou a surgir a preocupação com os efeitos nocivos da radioatividade no organismo humano.

A pesquisadora do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen/USP), Márcia Campos, que palestrou sobre “Radioproteção ambiental”, explicou que materiais radioativos, hoje conhecidos como altamente cancerígenos, eram usados indiscriminadamente, inclusive como cosméticos. Quando os primeiros pesquisadores da área começaram a adoecer, é que se começou a pensar nos malefícios. Um exemplo é a cientista polonesa Marie Curie, ganhadora do Prêmio Nobel de Química, que faleceu de anemia decorrente de seu contato com materiais radioativos.

Somente em 1928 é que se realizou o primeiro congresso de radiologia e foi criado um comitê internacional para regulamentar o uso da radiação “de forma otimizada, controlada e justificada”. Foi a partir dessa iniciativa que surgiu a atual legislação sobre o assunto.

O professor Flávio Soares, coordenador do mestrado, explica que, no final do século 19, alguns pesquisadores documentaram os efeitos da radiação no próprio corpo durante suas pesquisas. Eles pagaram com a própria vida, mas deixaram um grande legado para os futuros pesquisadores. Grandes tragédias, como a bomba de Hiroshima, na Segunda Guerra Mundial, ou desastres nucleares, com Chernobyl ou Fukushima, renderam grandes “bancos de dados” sobre os efeitos nocivos da radiação a longo prazo. Por isso, Soares destaca a importância das pesquisas, tanto para a proteção dos trabalhadores quanto para os pacientes e o meio ambiente.

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