Projetos do Câmpus Joinville apontam acesso à informação como caminho para melhorar a saúde pública
8. julho 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Joinville, MatériasA falta de informação e de orientações adequadas é um dos principais entraves para a melhoria das políticas públicas de saúde no Brasil e da qualidade de vida da população. Esta foi a conclusão comum de seis diferentes trabalhos de pesquisa realizados pelos alunos do curso técnico de Enfermagem do Câmpus Joinville. A apresentação dos projetos integradores (PI), que aconteceu nesta terça-feira (5), é requisito obrigatório para a conclusão do curso e complementa as pesquisas bibliográficas e de campo realizadas desde a primeira fase.
Neste semestre, quatro grupos trabalharam partes de um projeto maior que teve início no semestre passado e que visa conhecer os motivos da não adesão do público-alvo à campanha de vacinação contra a gripe, que protege contra subtipos do vírus da gripe, incluindo o vírus tipo A, causador da gripe H1N1. Cada trabalho pesquisou um grupo – puérperas, gestantes, doentes crônicos e crianças, nas nove regionais de saúde de Joinville. Os idosos foram pesquisados no semestre anterior.
A falta de conhecimento sobre a campanha de vacinação e do direito à vacina foi citada em todas as pesquisas exploratórias, junto com outros dois fatores relacionados: a falta de conhecimento sobre a importância da vacina e o medo de reações adversas. Conforme os alunos, as pesquisas mostram a necessidade das unidades básicas de saúde intensificarem o trabalho de divulgação e a atuação dos agentes comunitários de saúde (ACS).
As alunas Jenny Solange Silva Gomes e Tatiane Florentino Cândido da Silva pesquisaram as puérperas, que são as mulheres que acabaram de dar à luz e que ainda tem o seu sistema imunológico comprometido pelas modificações no corpo devido à gravidez. Foram entrevistadas 229 mulheres, das quais 53 não se vacinaram (23%). Destas, 18 não foram orientadas de que deveriam tomar a vacina, o que representa 34%. “É de vital importância que as campanhas de conscientização sejam direcionadas às puérperas, orientando sobre as diferenças entre as gripes sazonais e a gripe H1N1”, defenderam as futuras técnicas.
Entre as gestantes, 6% das mulheres entrevistadas alegaram não saber da campanha como motivo para não se vacinar. Os alunos Luciano Estevão de Espíndola, Mário César da Silva e Aline Aparecida dos Santos aplicaram 325 questionários. Das entrevistadas, 85 não tomaram a vacina. Como o público, necessariamente, passa pelas unidades de saúde durante o pré-natal, os alunos sugerem uma campanha de orientação junto aos profissionais de saúde que trabalham com o pré-natal para alertá-los sobre os riscos da H1N1 para as gestantes, como problemas respiratórios, parto prematuro e até óbito.
O maior percentual de não vacinados está entre os doentes crônicos: 62% das 295 pessoas entrevistadas pelos alunos Reinaldo do Nascimento e Robson Emanoel Fernandes não se vacinaram. Junto com a desinformação sobre a campanha, a falta de conhecimento do direito à vacina contribuiu para a falta de adesão à vacinação.
Segundo a pesquisa, 18% não sabia que tinha direito, 17% não achava importante e 10% não quis tomar. “Muitos não sabem que têm direito à vacina porque não se conhecem como doentes crônicos. Por isso, as campanhas devem elencar quais são as doenças crônicas”, sugerem. Doenças respiratórias, cardíacas, renais, hepáticas e neurológicas, diabetes e obesidade são alguns exemplos de doenças crônicas que reduzem a resistência imunológica, o que favorece o agravamento da H1N1.
Outro grupo prioritário para a campanha de vacinação contra a gripe é formado por crianças de seis meses a menores de cinco anos, estudado pelas alunas Elisabeth Erica Rech, Helouise Regina Christ, Raphaele Silveira e Tatiane Evangelista. Das 380 entrevistas feitas com os pais, apenas 11% responderam não ter levado os filhos para tomar a vacina.
O que chamou a atenção dos entrevistadores foi que 21 crianças não foram vacinadas porque os pais tiveram medo de reações adversas. “Identificamos a necessidade de melhorar o esclarecimento dos pais sobre a vacina e de ampliar a parceria entre as unidades de saúde e a rede de ensino”, enfatizou o grupo.
Conforme a professora Josiane Steil Siewert, “os dados levantados nas pesquisas exploratórias podem não trazer uma solução imediata para a falta de adesão às campanhas de vacinação contra a gripe, mas mostram onde está o problema”. Todas as pesquisas foram submetidas ao Comitê de Ética da Plataforma Brasil.
Orientação profissional
Embora com temas públicos e metodologia diferentes, os outros dois projetos apresentados como conclusão do curso técnico em Enfermagem também abordaram a importância da orientação dos profissionais de saúde como meio de promover o acesso à saúde pública.
Emanoele Hamad de Oliveira Dal Bello, Jeferson Rodrigues e Luciana Paula Aleixo da Silva realizaram o projeto “A visão dos travestis e transexuais em relação aos serviços de saúde e adequações físicas destas instituições na cidade de Joinville-SC”, com os objetivos de conhecer os serviços mais utilizados pelo público, compreender a demanda e identificar as dificuldades do acesso à saúde por causa da construção de gênero estigmatizada.
Durante a pesquisa de campo, o grupo entrevistou travestis e transexuais com idade entre 18 e 52 anos e conheceu duas associações de lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros de Joinville. A pesquisa revelou que 64% das entrevistadas sentem constrangimento no atendimento, 27% só procuram os serviços de saúde em caso de necessidade, 50% usaram a ala feminina em caso de internação e 82% usam o banheiro feminino.
Quando perguntadas sobre o que deve ser melhorado no sistema de saúde, 40% apontaram a questão do respeito humano. “A maioria espera que seus direitos sejam respeitados pelos profissionais de saúde e acredita que seja necessário fazer uma capacitação destes profissionais”, explicam os alunos, que sugerem inclusive que o tema deva ser tratado dentro dos próprios cursos de formação profissional de auxiliares, técnicos e bacharéis em Enfermagem.
O outro projeto integrador apresentado, “Alternativas de transfusão sanguínea em pacientes testemunhas de Jeová”, teve justamente o viés de orientação para os demais alunos do curso. Depois de pesquisar os preceitos religiosos que impedem os fiéis de receberem transfusão de sangue e alternativas ao processo, os alunos Claudinei Vilson Vicenti, Érica Cruz Araújo Lopes Oliveira e Lukas Gabriel Moers promoveram a formação dos colegas do curso técnico e da especialização técnica em Saúde do Idoso sobre o assunto.
“O assunto é muito delicado e gera conflitos, especialmente quando envolve crianças, mas o paciente religioso tem direito de não aceitar a transfusão”, explicaram os futuros técnicos. “Identificamos que ainda existem lacunas a serem preenchidas em relação ao conhecimento e práticas de estratégias alternativas de transfusão sanguínea e à aceitação dos profissionais destas alternativas.”
Por Liane Dani | Jornalista IFSC