Mulheres formam-se em cursos predominantemente masculinos
11. agosto 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Lages, MatériasA formatura dos cursos técnicos em Eletromecânica e Informática do Câmpus Lages do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) da última sexta-feira (5) foi especialmente importante. Nela, Fernanda Coroski tornou-se a primeira mulher a concluir o curso de Eletromecânica do câmpus, uma área conhecida por ser mais procurada pelos homens. Por enquanto, isso ainda é notícia. Nossa luta é para que histórias como essa sejam cada dia mais comuns.
Boneca, panela, motor e graxa
Motores, tornos mecânicos e instalações eletrônicas não eram novidades para Fernanda. Filha e afilhada de mecânicos de automóveis, esses equipamentos dividiam sua atenção com as bonecas desde a infância. Seguir carreira na área seria questão de tempo.
“Sempre tive curiosidade em saber o que realmente fazia o curso de Eletromecânica, então meu primo, que era professor do IFSC na época, avisou-me que ia ter o exame de qualificação”, comenta Fernanda. Bastou apenas uma semana de curso para a paixão pela área aflorar e ter a certeza da escolha bem feita.
Ser a única mulher da turma foi um título que a acompanhou desde o segundo módulo. A cada nova disciplina, um novo estímulo para concluir o curso, mesmo com as dúvidas e desafios das matérias práticas. “Nunca tive medo de aprender”, afirma.
Igualdade desde o primeiro dia
A relação com os colegas de turma também foi algo determinante para o sucesso da agora técnica em Eletromecânica. “A relação em sala foi ótima, nunca tive qualquer problema com os colegas homens, sempre me tratavam com igualdade, sem essa de ‘isso não é coisa de menina’”, conta.
“Desde o começo ficamos amigos. A Fernanda não tinha medo de se sujar nas aulas práticas, colocava a mão na massa mesmo. Nas aulas de Elétrica, era craque em descascar os fios e se destacava por sua delicadeza e habilidade. Ela adaptou-se muito bem e sempre a tratamos com muito respeito”, conta o colega Brendon Oliveira Damasceno.
O coordenador do curso de Eletromecânica, Ariton Araldi, destaca Fernanda como uma excelente aluna. Além de muito dedicada, o professor lembra que ela era vista como referência na turma, e que em nenhum momento houve adaptação de conteúdo ou avaliação em virtude dela ser mulher. “Vários projetos ela executou e trabalhou em todas as maquinas. E é assim que tem que ser. Ainda tem um paradigma da questão da mulher nas áreas da mecânica e elétrica, mas dentro do IFSC isso tem mudado. Tanto é que só soubemos que ela era a única menina na formatura, tamanha a naturalidade com que tratamos a presença dela e isso é positivo, como tem que ser”, comenta. O curso técnico em Eletromecânica formou a sua terceira turma e nas duas primeiras não havia mulheres entre as concluintes.
“Nas turmas ainda em andamento temos várias mulheres. Uma acaba puxando outra, encorajando novas meninas a fazer o curso. Acredito que essa história de formatura sem mulheres tenha ficado para trás”, finaliza Ariton.
Sobre ser a primeira mulher a concluir o curso de Eletromecânica, Fernanda não esconde o orgulho. “Fiquei super feliz, não vou negar”, diz. E para aquelas que acham que a área é um clube do bolinha, Fernanda tem um recado: “Se você tem curiosidade, se tem vontade de aprender coisas novas deve seguir em frente, pois não existe mais profissão dedicada só para homens ou só para mulheres. O que vai fazer você se destacar é a força de vontade e o interesse”, finaliza. Fernanda agora vai tentar entrar para o curso superior em Engenharia Mecânica do IFSC, que terá processo seletivo para ingresso em 2017.
As formandas
O outro curso que se formou na ocasião também pertence à área das ciências exatas e tem ampla maioria de homens. Porém, mais uma vez a força da mulher serrana esteve presente. Metade da turma do Técnico em Informática era composta por mulheres. “Essa foi a maior representatividade. É um crescimento que temos visto ao longo dos anos, uma tendência e que culminou nessa turma. Já tivemos turmas formadas sem mulheres, aos poucos foi crescendo e agora chegamos a metade. E das turmas que estão ainda cursando o número continua expressivo”, conta o coordenador do curso Técnico em Informática, Vilson Heck Júnior.
O professor acredita que isso é um paradigma que vem da formação ainda como criança. “Classicamente as famílias ensinam que brinquedo de menino é um e menina é outro, desde sempre são acostumadas a seguir carreiras ligadas às áreas mais conhecidas entre as mulheres (educação, saúde). Elas têm percebido que a informática é uma área que elas se adaptam muito bem”, comenta Vilson, ressaltando que um ponto positivo para o aumento do número de mulheres é o convite de amigas que realizaram o curso e acabam trazendo outras para a instituição.
“As meninas se identificam com carreiras de acordo com suas habilidades e influenciadas pelo meio em que vivem. Em muitos casos, elas escolhem carreiras mais conhecidas entre as mulheres para que se sintam pertencentes a um grupo socialmente e culturalmente mais aceito, em vez de seguir o que querem de verdade com medo de represálias”, esclarece a pedagoga do Câmpus Lages, Simone Dulz.
Por Rafael Xavier dos Passos | Jornalista IFSC