Seminário de Humanidades do Câmpus Canoinhas aborda movimentos sociais, resistência e democracia

26. agosto 2016 | Escrito por | Categoria: Câmpus Canoinhas, Eventos, Matérias

A conquista de direitos vem da luta dos movimentos sociais. A partir desta ideia central, foi realizado de quarta a sexta (24 a 26), no Câmpus Canoinhas, o 1º Simpósio de Humanidades. O evento trabalhou o tema Movimentos Sociais: Resistência e Democracia, por meio de mesas-redondas, oficinas e minicursos em diferentes contextos históricos e culturais, tanto no âmbito acadêmico quanto no de práticas sociais populares. A iniciativa teve como objetivos promover o debate e a reflexão de temas relevantes da atual conjuntura política brasileira e discutir os conteúdos transversais previstos nos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN).

Para o coordenador do evento, Joel José de Souza, que é professor de geografia no Câmpus, o Seminário é a “realização de um sonho do que imagina ser o IFSC, com missão, visão e valores direcionados para a formação de cidadãos críticos e atuantes”. Ele trouxe a ideia do Câmpus Linhares do Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), onde realizou três seminários neste modelo. “É gratificante saber que temos o apoio do IFSC para realizar um evento assim numa região que tem um dos menores índices de desenvolvimento humano de Santa Catarina e que foi palco do movimento do Contestado, que tem a temática da resistência.”

Ao defender a importância do evento para o IFSC e para a região, a diretora do Câmpus Canoinhas, Maria Bertília Oss Giacomelli, ressaltou que não existe educação profissional e tecnológica exclusivamente técnica. “Como vamos formar cidadãos se não trabalharmos o lado social, o lado humano?”, questionou.

“Somos uma instituição forte em todo país porque formamos pessoas que, além da profissão, recebem formação plena, formação crítica”, complementou a reitoria do IFSC, Maria Clara Kaschny Schneider, que participou da abertura do Simpósio. Ela reforçou a necessidade das pessoas participarem de movimentos e de debaterem as conjunturas política, econômica e social para poderem lutar pela garantia de direitos.

Uma das atrações da noite de abertura foi a apresentação de um flash mob organizado pelo curso de teatro do Núcleo de Cultura e Arte (NuCa), do Câmpus Canoinhas. Da plateia, o grupo “É o quê?” recitou frases do dramaturgo inglês William Shakespeare como provocação aos presentes.

Desafios

Após a abertura oficial, os trabalhos do Simpósio tiveram início com a mesa-redonda que levou o tema do evento. O professor da Universidade Federal da Integração Latino-americana (Unila), Zeno Crocetti, e o professor e vice-reitor da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), Antônio Inácio Andrioli, assumiram a responsabilidade de falar sobre Movimentos Sociais: Resistência e Democracia e sobre os desafios em se mobilizar a sociedade a lutar por seus direitos, com mediação do professor Joel.

Para professor Crocetti, um desses desafios é entender por que os cidadãos não se motivam a discutir política fora da época eleitoral. “Somente algumas pessoas se envolvem com política. Mas, se não nos fizermos representar, alguém vai nos representar”, comentou o professor, destacando que é preciso articular debates e organizar movimentos mesmo que parte da sociedade não queira.

Andrioli levou o questionamento mais longe: “por que não querem que as pessoas pensem? Por que deixar de pensar com consciência?”. Para o especialista, consciência não é só informação. É identidade entre pensamento e ação. “E isso é possível nos movimentos sociais, onde é construída consciência política.” Neste aspecto, o vice-reitor da UFFS ressaltou que enquanto tiver privilégio e carência não haverá democracia. “O que faz com que a maioria que tem carência aceite que quem tem privilégio os represente?”, questionou.

Ao abordar aspectos históricos dos movimentos sociais no Brasil, Crocetti lembrou que foram questionamentos assim que ajudaram a mobilizar as pessoas em torno de objetivos comuns, como foi o caso da grande mobilização das minorias registrada em 2013, em que os movimentos questionaram os investimentos em saúde, educação e transporte. “O poder público não estava preparado para a mobilização dos estudantes”, disse o pesquisador ao justificar a repercussão do movimento. Ele reforça que somente com a mobilização dos brasileiros será possível impedir o avanço da política neoliberal, que tem o propósito de tirar direitos dos trabalhadores. “Os serviços públicos estão sendo oferecidos em doses cada vez menores”, afirmou.

Segundo Andrioli, a defesa destes direitos fica ainda mais difícil quando se veem as iniciativas para criminalizar os movimentos sociais no Brasil. “Por que reprimir a democracia? Porque a democracia possibilita ensinar, educar para a cidadania.” Ao finalizar, o professor dividiu a responsabilidade com os jovens: “se o jovem não lutar, quem lutará?”

Por Liane Dani | Jornalista IFSC

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