2º Seminário de Inclusão do Câmpus Florianópolis promove reflexões
2. setembro 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, Eventos, Matérias“Não existe inclusão para uns. Ou é para todos ou não é inclusão”. Este foi o tom da palestra principal do 2º Seminário de Inclusão do Câmpus Florianópolis do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), realizado no dia 26 de agosto, no auditório Alberto Aparecido Barbosa. A palestrante foi Mônica Pereira dos Santos, professora da UFRJ, com graduação em Psicologia, Mestrado e PhD em Psicologia e Educação Especial pela Universidade de Londres.
Apesar de sua titulação, Mônica afirmou que a especialização em Educação Especial não é essencial para se fazer inclusão no ambiente escolar. “Tem que ter um compromisso ético e um desenvolvimento pessoal que se comprometa com os direitos humanos”, explicou. Para ela, apesar de a inclusão ser direcionada hoje a determinados públicos, o fato é de que não existe mais, ou não deveria mais existir, o conceito de turma homogênea. Deste modo, todo aluno é considerado diferente, pois são seres únicos, cada um com uma construção e conhecimento diferentes. “É libertador pensar, refletir e praticar a inclusão, não só como parte do trabalho, mas como modo de vida. Inclusão não é só na escola. Não adianta ser inclusivo e bater na mulher, ou espancar o marido, ou abandonar um animal, ser um tirano ou tirana com os filhos, ser grosso com subalternos. É para todas as áreas da vida”.
A professora defendeu que é preciso retirar a ideia de que é preciso amar ou tolerar o aluno de inclusão. “O que é preciso é respeitar. A inclusão não precisa de sujeitos, porque ela precisa ser para todos. Mas na provisão desse todo é preciso ver as diferenças dos sujeitos. É difícil? É. Eu não vim aqui dizer que é fácil. Vim aqui dizer que é possível”, destacou.
“Nenhum problema é só do outro. Aí que fica difícil. Porque a gente tem que pensar em qual a nossa ligação com aquilo e no nosso papel para melhorar ou piorar a situação”.
Mônica destacou que o formato de hoje da educação brasileira é excludente desde sua fundamentação legal. Na legislação, está definido que a promoção do aluno é por mérito. “Mas quem define como medir o mérito? Quem define as competências? Se eu tivesse 78 anos, com problemas de locomoção, e, ao ser chamada ao palco, levasse três minutos para subir, eu seria incompetente?”. Na forma atual, quase todas as pessoas que já partem de uma desvantagem, causada por questões físicas, mentais ou sociais, não conseguem reverter isso em nenhum momento da sua história escolar.
Para a palestrante, no entanto, o processo é irreversível e para sempre. “Não falo em educação inclusiva, mas em inclusão em educação, Porque é um processo que não acaba. Eu sinto muito se você é professor e até hoje fez coisas que funcionaram. Porque cada vez mais vão aparecer pessoas com as quais não funcionarão mais e você vai ter que se adaptar e mudar. Se você não quiser, procure outra profissão. É até um favor que você faz, deixar de atrapalhar a educação de todos. Porque é um direito, não é um favor”.
Mônica encerrou a palestra com um apelo aos professores presentes. “Eu apelo para vocês hoje: se você não sente isso no seu âmago, não sente você quer isso para você, repense a sua profissão. Repense se é mesmo na Educação que você quer ficar. A fala de Mônica está disponível no canal da IFSCTV no Youtube:
O seminário
O 2º Seminário de Inclusão do Câmpus Florianópolis foi realizado dois anos após a primeira edição, em 2014. “Em 2014, nosso foco principal era a sensibilização das pessoas. Ao preparar essa fala de hoje, fiquei me perguntando: o que mudou?”, perguntou-se Cristiane Antunes Zapelini, coordenadora do Núclo de Atendimento às Pessoas com Necessidades Específicas (Napne) do Câmpus. “Precisamos construir outras formas de inclusão na escola. Que a gente se desafie a incluir as diferenças e que a gente aprenda a lidar com a própria diferença em relação aos outros”, afirmou na abertura do evento.
Também na abertura, o presidente do Conselho Regional de Psicologia da 12° Região – Santa Catarina, Igor Schutz dos Santos, afirmou que a inclusão é um tema que está em destaque e é muito importante para a profissão. Ele lembrou que o seminário coincidiu com a véspera do Dia do Psicólogo, comemorado em 27 de agosto, uma profissão predominantemente feminina (cerca de 90% dos profissionais são mulheres), que tem como característica o cuidado e a defesa dos direitos humanos.
Já a diretora geral do Câmpus Florianópolis, Andréa Martins Andujar, destacou que é preciso conhecer as diferenças para incluir e não para justificar a segregação. “Para situações desiguais, tempos que adotar medidas diferenciadas, para garantir a equalização e não manter a desigualdade”.
Além da palestra de Mônica Pereira dos Santos, evento contou com duas mesas-redondas – “Paradigma da inclusão: Desafios e possibilidades no espaço escolar” e “A pedagogia das competências e a inclusão no IFSC” e cinco minicursos – Autismo, Altas Habilidades, Educação Inclusiva, Inclusão e questões raciais e de gênero e Desenho universal para aprendizagem.
Por Sabrina Brognoli d’Aquino | Jornalista IFSC