Projeto leva música e oficinas a asilos da Grande Florianópolis
2. setembro 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus São José, MatériasDepois de cinco meses de atividade, o projeto do Câmpus São José do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) que levou atividades lúdicas a asilos da Grande Florianópolis chegou ao fim. “Mas não contamos isso para os idosos, eles ficariam tristes”, anota a coordenadora do projeto, Joce Mello Giotto. Os lares filantrópicos acolhem idosos em situação de vulnerabilidade — geralmente sob determinação judicial, em casos de maus-tratos ou abandono.
A cada semana, um grupo de bolsistas e voluntários visitava a Casa Santa Maria dos Anjos, em Palhoça, ou o Lar de Velhinhos de Zulma, em Campinas. Dessa forma, a aproximação com os idosos foi sendo construída aos poucos. Diálogos, exibição de vídeos do Charlie Chaplin, oficinas de pintura e até música ao vivo fizeram parte das atividades.
O projeto é baseado em uma iniciativa semelhante de 2015. A pedagoga Graciane Daniela Sebrão coordenou visitas e doações ao Lar de Zulma. A professora de Filosofia Joce Mello Giotto incorporou e ampliou o projeto em 2016, pelo primeiro edital de extensão do IFSC. “Como o lar na Palhoça é afastado, não recebe muitas visitas e projetos como o nosso, então decidimos incluí-lo”, explica.
Com custeio mensal e dois bolsistas, o projeto “Bem-estar e qualidade de vida na terceira idade: oficinas educativas” atendeu os dois lares. Passaram pelo projeto os bolsistas Franklin Cruz Marinho, Ana Maria da Rosa e, ao fim, Simone Aparecida Schmitz e Laís Dorigon Rodrigues, alunos dos cursos técnicos integrados do câmpus.
Festa de encerramento em Palhoça
O acesso à Casa Santa Maria dos Anjos fica em uma das vias principais de Palhoça, mas a casa de dois andares no final do terreno pode passar despercebida. O asilo é mantido pela Igreja Católica, mas, para complementar a renda, conta com doações da população e eventos beneficentes, como bingo, cafés e brechó. Ainda assim, a estrutura, que poderia atender 40 idosos, acolhe 21 pessoas, pois a equipe de profissionais da saúde e auxiliares é insuficiente.
Eram 14h da segunda-feira (29) quando a chegada dos primeiros integrantes do projeto irrompeu o marasmo da casa. Alguns velhinhos, já familiarizados com a equipe do projeto, aguardavam do lado de fora. O encerramento, no salão de festas, foi animado pelo músico Edson Moura e por uma dupla de palhaços do projeto Doses de Alegria. Os bolsistas tiravam os idosos para dançar modas sertanejas e sambas de raiz.
Nem todos compareceram. No outro bloco, onde ficam os quartos individuais e coletivos, estavam homens e mulheres que não quiseram festejar ou não podem se locomover. A casa conta com elevadores e corredores esparsos, para comportar os 12 cadeirantes que lá moram. Num dos quartos individuais, uma senhora, que se recusa a abrir a janela e as cortinas cor-de-rosa, preferiu permanecer reservada em seu sono.
A pessoa com idade mais avançada no lar é o Vô Zezinho. No alto dos seus 102 anos, o senhor que passara a vida no bairro Rio Vermelho, em Florianópolis, recebe cuidados constantemente em um dos quartos coletivos. Ele responde às perguntas com sorrisos, toques e palavras balbuciadas. O mais novo na casa é um senhor de 59 anos, advindo de uma situação familiar delicada — porém, como é via de regra, não teve sua história exposta à reportagem.
A rotina da casa é pautada pelos atendimentos médicos e fisioterapêuticos, além de atividades de recreação e as seis refeições servidas diariamente. No segundo andar, fica uma capela para as missas. Quem guiou a visita foi o coordenador da casa José Allison Santos, 31 anos, que está finalizando sua graduação em Jornalismo.
No salão, a festa ainda estava animada. Senhores e senhoras dançavam ao som de “As andorinhas voltaram” do Trio Parada Dura, que fez sucesso na década de 80. O violeiro, Edson Moura, busca tocar músicas clássicas que ajudem os idosos a rememorar o passado. O músico atuou nas duas versões do projeto, recebendo uma ajuda de custo. Pretende, porém, continuar visitando as casas voluntariamente. “Afinal, não nos custa nada; pelo contrário, a gente tem muito o que aprender com eles.”
Francisca de Matos, uma senhora de cabelos grisalhos e terninho cinza, cantarolava em um dos sofás do salão. “Queria dançar, mas hoje não posso, minha perna dói”, conta a idosa, que já sente no corpo o peso dos seus 93 anos de idade. Ela saiu da casa onde morava no bairro Ponta de Baixo há 10 anos por medo de enfrentar a velhice sozinha. A família toda já se foi, mas Francisca ainda recebe visitas de amigos e antigos vizinhos.
Os palhaços Doutor Lambari e Doutor Confuso das Grotas brincavam e arrancavam risadas dos idosos. Como o grupo Doses de Alegria é voluntário e os integrantes realizam outras atividades profissionais, os palhaços não conseguiram comparecer ao encerramento no Lar de Zulma, na quarta-feira (30). Esse projeto existe há quatro anos e atua, principalmente, no Hospital Infantil Joana de Gusmão, em Florianópolis.
O Doutor Confuso veste um jaleco branco customizado, nariz de palhaço e carrega uma viola, com a qual galanteia as senhoras. Porém, o mineiro Leomar Lopes da Pena só revela seu nome de batismo quando não está à caráter. No dia do evento, ele conseguira uma folga da função de operador de empilhadeira em uma fábrica de bebidas em Palhoça por algumas horas.
O show no salão encerrou com o “Trem das Onze” de Adoniran Barbosa. A professora Joce Mello Giotto e seus bolsistas trouxeram bolo para juntar ao coquetel. Era também aniversário do coordenador do asilo, José Allison Santos, que falou emocionado em seu discurso, agradecendo à equipe do projeto e apoio dos funcionários do asilo. Joce pretende dar continuidade à atividade de extensão. “Os idosos precisam de atenção e diálogo sempre, quero continuar visitando eles”, afirma.
Por Eduarda Hillebrandt | Estagiária de Jornalismo IFSC