Sepei 2016: para empreender, boa ideia só não basta
16. setembro 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Criciúma, Eventos, MatériasPara quem está se preparando para ingressar no mercado do trabalho, os alertas já não são mais novidade. Muitos terão de criar seus próprios empregos, já que não haverá emprego para todos. Profissões que existem hoje deixarão de existir e muitos trabalharão em profissões que ainda não existem.
Se este cenário é claro para quem está iniciando uma carreira, como dar um passo à frente? Esse foi o propósito dos palestrantes do 5º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação (Sepei), que vieram ao Câmpus Criciúma do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC) falar sobre empreendedorismo em diversas atividades, além fazer uma provocação aos jovens participantes: para empreender, só ter uma boa ideia não basta. É preciso ter conhecimento, persistência, aprender com erros e saber que serão muitos os obstáculos pela frente.
Diretor técnico do Sebrae-SC, Anacleto Ortigara destacou a importância, para os estudantes, de momentos como o Sepei e a própria experiência no IFSC. “É descabido chegar a um evento como o Sepei e sair mais ou menos como chegou. Pessoas inquietas, quando canalizam suas inquietudes para um projeto, conseguem um resultado de sucesso. A maioria das pessoas, porém, acaba fazendo o que a maioria já faz”, disse Anacleto, provocando os participantes, a maioria estudantes de ensino médio e graduação, a fazerem mais do que serem bons alunos. “A sala de aula tem de ser apenas o ponto de partida”, completou.
Com exemplos de sucesso que foram do comunicador Chacrinha ao criador do aplicativo Easy Taxi, o diretor do Sebrae apresentou pontos de encontro na trajetória de empreendedores de sucesso. Entre eles, destacou a capacidade para identificar problemas pelos quais ainda não existem soluções, se antecipar a tendências e, sobretudo, não desistir no primeiro percalço. “Um empreendedor de sucesso deve superar a demasiada preocupação com os erros. Medo é importante, mas é preciso seguir em frente na perspectiva de fazer o negócio dar certo”, afirmou.
Exemplos locais
Um dos painéis mais concorridos sobre empreendedorismo trouxe ao Sepei as trajetórias de empresas familiares da região: a cervejaria Saint Bier, de Forquilhinha, e da Prodapys, empresa de Araranguá especializada em produtos naturais apiderivados. Em comum, os proprietários das empresas destacaram que a principal característica de um empreendedor é a capacidade de ir até o fim em um projeto, mesmo quando eles não dão certo.
“Sonhar, acreditar e materializar”, insistiu Abrahão Paes Filho, da Saint Bier. Antes de fundar a cervejaria há oito anos, o empresário criou outras empresas, algumas das quais tiveram de fechar em função de mudanças no mercado. Esses percalços no caminho não devem ser encarados como fracasso, destacou o empresário. “É um aprendizado. As pessoas empreendedoras acreditam em seus sonhos e sempre terminam aquilo que começaram”, declarou.
Com uma trajetória diferente, Célio Silva, da Prodapys, também mostrou que a persistência é um fator fundamental na vida de um empreendedor. Farmacêutico por formação, decidiu encerrar as atividades de 40 anos de seu laboratório de análises clínicas para se aventurar na criação de uma nova empresa. A ideia, que começou quando teve de lidar com um enxame na sua casa de praia, se transformou na maior exportadora de mel do Brasil. Célio buscou conhecimento sobre apicultura e participou de congressos em vários países até fundar a empresa em 1992. Hoje, entre outros projetos, a empresa mantém uma filial no semiárido do Piauí, gerando melhores oportunidades para os agricultores da região. “Empreender é ajudar”, destacou Célio.
Obstáculos
Além dos problemas do próprio negócio, há mais obstáculos na vida de um empreendedor. Um dos que foi discutido no Sepei diz respeito às mulheres. Num meio marcadamente machista, as mulheres não têm as mesmas oportunidades para empreenderem ou se tornarem líderes de grandes empresas, defendeu a professora do Câmpus Florianópolis do IFSC, Patrícia Rosa.
Patrícia apresentou dados e exemplos mostrando que ainda existem poucas mulheres na liderança de grandes empresas, e que elas recebem menos que os homens. Também detalhou pesquisas indicando que as mulheres sofrem preconceito no mercado de trabalho, e acabam se boicotando por sempre ouvirem que não são capazes. “Existe uma cultura que diz que, para empreender, é preciso ter um pênis. E que a responsabilidade da mulher é cuidar da casa e dos filhos. Como ficam as mulheres, e também negros, LGBTs, pessoas com deficiência, neste mundo que ainda é muito branco, macho e heterossexual?”, questionou a professora. No final de sua palestra, ela falou sobre a Economia Popular e Solidária como uma das alternativas para as mulheres de baixa renda empreenderem e superarem a cultura que acaba as prendendo em casa. E lembrou que a academia também é um espaço hostil para as mulheres. “Precisamos de mulheres na ciência para tratar de problemas que são das mulheres”, ressaltou.
Já a psicóloga Cláudia Basso, do Instituto do Ser, debateu os dilemas impostos aos jovens na hora de decidir por uma carreira. “Escolher uma profissão é empreender na carreira profissional”, disse a psicóloga, responsável pela palestra “Empreender sem medo: o que a escolha profissional tem a ver com isso”.
Na conversa com os estudantes do IFSC, Cláudia falou sobre os fatores que influenciam os jovens na hora de decidir uma carreira e como eles devem avaliar diferentes critérios para tomar essa decisão. Influência da família, expectativas financeiras, estereótipos de determinadas carreiras, tudo interfere na escolha de uma profissão. “Em vários momentos da vida tomamos decisão que envolvem nossa carreira e nosso projeto de vida”, lembrou a psicóloga.
Por Daniel Cassol | Jornalista IFSC