Emoção e homenagem a Soni de Carvalho marcam festa de 107 anos do IFSC Câmpus Florianópolis
26. setembro 2016 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Câmpus Florianópolis, Eventos, MatériasSoni de Carvalho, diretora geral da então Escola Técnica Federal de Santa Catarina, de 1994 a 1998, foi o grande nome da festa dos 107 anos do IFSC, realizada na última sexta-feira, dia 23 de setembro. A professora foi homenageada com uma placa na praça “das bandeiras”, que agora passa a se chamar Soni de Carvalho.
Soni era professora de história e seu nome e personalidade são unanimidade entre os servidores e estudantes do IFSC que puderam conviver com ela. O vice-diretor do Câmpus Florianópolis, professor Marcos Neves, falou sobre o novo nome do local. “Não existe memória sem espaço, precisamos ter isso em mente. E essa questão era clara para a Soni, que era professora de história. Precisamos ter a noção de que nós somos memória. E que esse passado ilumine nosso presente e ajuda a guiar a caminhada para o futuro”, discursou.
O professor João Alberto Ganzo Fernandes (discursando na foto ao lado), responsável pelo projeto original da praça, em 1997, durante a gestão de Soni, lembrou que havia ali um espaço bastante degradado e pouco usado. E havia um projeto para abrir uma “rua” para que caminhões acessassem a cantina. “Aí dei uma de engenheiro e disse que não podia, como um espaço nobre desse seria usado para fazer uma rua? Pra passar caminhão? Aí me desafiaram: ‘se não está achando bom, então faz algo melhor’. E eu pus tanto amor, fiz o projeto com tanto carinho, que acho que por isso que deu certo. Como eu tinha sido aluno da escola, eu sabia como espaço era usado”, conta.
Ana Paula, filha da professora Soni (na primeira foto), emocionou-se ao descerrar a placa comemorativa. “Minha mãe sempre foi conhecida como uma mulher idealizadora. E hoje a gente está aqui acreditando nesse projeto que não foi só um sonho. Ele realmente aconteceu. Ela sempre dizia assim: “vamos tirar os muros das escolas, vamos trazer a comunidade pra dentro de uma instituição, trazendo um ensino de inclusão, de qualidade e, sobretudo, de excelência e gratuito’. E eu sou muito feliz de poder ter tido ela como mãe e saber que ela não passou em branco nessa vida, ela pôde estar presente em todas essas pessoas que estão aqui hoje. Que esses 107 anos sejam só o início do sucesso. Obrigada”.
Durante o evento, houve também apresentação do Coral do Câmpus Florianópolis e participação do Grupo Teatral Boca de Siri. A diretora-geral do Câmpus, Andréa Martins Andujar, que estava participando da 40ª Reunião dos Dirigentes das Instituições Federais de Educação Profissional e Tecnológica (Reditec), no Espírito Santo, fez-se presente em um vídeo, onde falou dos motivos para se festejar a data e também para que servidores e estudantes unam-se em prol de uma educação melhor e mais inclusiva.
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Memória: Dona Amélia foi a primeira mulher a se formar no Câmpus
Dentro do projeto de resgate e comemorações pelos seus 107 anos, o Câmpus Florianópolis também entrou em contato com a primeira aluna a se formar na então Escola Industrial, Amélia dos Reis Ouriques. Ela entrou no curso de Alfaiataria aos 14 anos, em 1951. “Eu entrei pensando que tinha costura, mas não, era só roupa de homem”, relembra Amélia, hoje com quase 80 anos. Nascida em Florianópolis, ela disse que os pais e familiares se espantaram com a decisão da menina de frequentar uma escola onde, até então, só havia garotos estudantes. “No começo achavam estranho. Mas depois eles tiveram muito orgulho, pois fui a primeira da família a estudar, a me formar numa escola”, conta.
Depois do susto ao perceber que não teria aulas de costura, apenas alfaiataria, Dona Amélia disse que pensou em desistir. “Mas comecei a gostar, e também os professores eram maravilhosos. Me acolheram e me defendiam. Imagina, era eu na turma com mais 14 rapazes. Foi muito sacrificante, tive que aturar muito, os meninos eram abusados, falavam muito palavrão. Não havia falta de respeito comigo, mas eles inticavam. Só uma vez que um foi malcriado comigo e eu reclamei para o diretor e logo ele foi chamado, e conversaram com ele. Os professores me defendiam muito”.
Dona Amélia se formou em 1955, mas não chegou a exercer a profissão. “Mas valeu a pena. Com os estudos do curso de alfaiataria, consegui passar no exame para o curso técnico em contabilidade, em outra instituição”. Nem por isso, no entanto, o IFSC deixou de fazer parte da família. Um dos seis netos de Dona Amélia começou o curso de Sistemas Eletrônicos (hoje chamado Eletrônica Industrial). Depois ele pediu transferência para a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), para o curso de Agronomia, e agora ele voltou ao IFSC para cursar o curso técnico subsequente em Agrimensura, em paralelo ao curso superior na UFSC. Na foto ao lado, Dona Amélia com o marido e os três filhos, há dois anos, na festa de bodas de ouro. Hoje ela é viúva.
Por Sabrina Brognolli D’Aquino | Jornalista IFSC