Sepei 2017: ex-secretário da Setec comenta desafios da EPT
6. setembro 2017 | Escrito por Jornalismo IFSC | Categoria: Eventos, Matérias
O 6º Seminário de Ensino, Pesquisa, Extensão e Inovação do IFSC (Sepei) recebeu nesta terça-feira a mesa temática Desafio à Educação Profissional e Tecnológica, com Marcelo Feres, professor do Instituto Federal de Brasília e ex-secretário da Secretaria do Ensino Técnico e Tecnológico (Setec) do Ministério da Educação (MEC). A mesa foi mediada pelo diretor do Centro de Referência em Formação EAD do IFSC (Cerfead) Olivier Allain.
O palestrante veio ao Sepei falar sobre a reforma do Ensino Médio sob a contexto da educação profissional. Para o professor, a educação profissional tem muito a crescer, se comparado com países desenvolvidos. “No Brasil, só 5% dos alunos do Ensino Médio fazem o Ensino Médio integrado à educação profissional. Ou 8% se incluirmos o técnico concomitante. A União Europeia, por exemplo, registra 50% nesse índice”, completa. Em alguns países, como a Áustria e a Finlândia, esse índice chega aos 70%.
Para Marcelo, repensar esses índices é fundamental para o crescimento do país, pois em breve muitos dos empregos tradicionais deixarão de existir, como já ocorreu no passado.Com isso, o país corre o risco de, além de formar poucos, formar profissionais que não mais atenderão as exigências do mundo do trabalho.
“Deve haver uma articulação entre trabalho, tecnologia e inovação. Todo o trabalho requer em menor ou menor escala, a atividade intelectual, a produção de inovação”, diz.
Histórico da EPT
O ex-secretário apresentou um panorama da Educação Profissional e Tecnológica (EPT) em períodos que classificou como momentos decisivos da rede EPT, como a criação das antigas Escolas de Aprendizes e Artífices, em 1909, até 1996 com a aprovação da Lei de Diretrizes e Bases (LDB) vigente.
Depois, Feres comentou o fortalecimento da rede no Século XXI, desde a publicação do Decreto 5154, de 2004, que reformula a LDB de 1996 até o ano de 2014, onde há o levantamento da realidade atual da EPT pós-formação da Rede, em 2008. “Desde a criação dos IFs (2008) a escola de formação ao trabalho não conseguiu se comunicar com a escola de formação geral. O Ensino Médio integrado é uma tentativa no sentido de comunicar as duas formas, mas só 5% dos alunos do Ensino Médio do país o fazem. Isso tem que ser corrigido”, completa. Ou seja, para Marcelo há um aumento no acesso, mas não necessariamente aos cursos que são mais úteis para o futuro.
“É um desafio. Temos mais alunos no Ensino Médio que toda a população da Suíça. Ainda assim, menos de 10% dos jovens do ensino médio fazem o ensino profissional. Esforços têm sido feitos, mas os resultados ainda são pequenos”, lamenta.
Propostas
Marcelo Feres comenta que o Ensino Médio tem duas funções: o fim da educação básica e como uma etapa preparatória para o prosseguimento no estudos. Essa dualidade acaba separando os currículos e provocando pouca comunicação entre as disciplinas. Para o palestrante, o ensino profissional deve fazer parte da vida do estudante. Não só isso, a pesquisa e a inovação devem estar presentes desde sempre.
“É preciso que a própria EPT participe da agenda de pesquisa e inovação. Que se comece mais cedo, na formação técnica, a iniciar esse processo. O que vocês fazem aqui neste evento e é importantíssimo”, reconhece, comentando a natureza do Sepei. Para fazer parte desse processo, a EPT deve ser protagonista na reformulação da Base Nacional Curricular Comum (BNCC), inclusive criando uma Base Tecnológica Nacional Comum (BTNC).
“Não dá mais para separar a formação geral e a profissional. É um equívoco. Um dos meios de resolver é uma maior junção entre o médio e o técnico. Precisamos de alternativa para além do ensino médio integrado, que é muito caro. Precisamos de soluções e isso se torna ainda mais difícil e, tempos de poucos recursos”, finaliza.
Rever conceitos
Olivier Allain completou a fala do ex-secretário recuando um pouco na discussão e trazendo a conversa para as definições dos termo. “Educação científica e tecnológica são a mesma coisa? Ciência e tecnologia são termos tão próximos assim?”. Para Olivier é necessário saber como se produz conhecimento e como ele é renovado, de acordo com o tipo que estamos lidando.
Para Olivier, educação tecnológica não é educação científica. Só que na academia isso é usado como uma expressão normal e única. Educação profissional está ligada ao trabalho, e isso é a intervenção humana no mundo para produção da sua existência. É a arte de transformar a natureza e o mundo para que ele consiga sobreviver e se adaptar em sociedade.
“Como se transforma a natureza? usando a tecnologia. E aí, não estamos falando da tecnologia como se vê hoje, com o celular, o computador, mas da ciência da técnica.”, completa.
Confira a atividade na íntegra na IFSCTV
Por Rafael Xavier dos Passos | Jornalista IFSC