Frigotto defende formação ampla em palestra no Câmpus Florianópolis

22. setembro 2014 | Escrito por | Categoria: Câmpus Florianópolis, Eventos, Matérias, Reitoria

A formação de trabalhadores para a sociedade, e não só para o mercado, na educação profissional foi defendida pelo filósofo e pedagogo Gaudêncio Frigotto na palestra “Formação dos trabalhadores no atual contexto: análise crítica das atuais políticas”, ministrada por ele no Câmpus Florianópolis na sexta, dia 19.  “Uma formação que permita a leitura da realidade é importante para qualquer cidadão”, afirma.

SONY DSCFrigotto criticou a visão que separa a educação que produz ideias da educação para o trabalho. “Você aliena tanto o aluno de classe média, que tem ojeriza à técnica e à produção – esse é o preconceito escravocrata no Brasil – e, de outro lado, você mutila de direitos de entender mais amplamente o mundo, a arte, a cultura, porque você o adestra.”

Falando sobre cursos integrados, Gaudêncio Frigotto, que é professor adjunto da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj) e professor titular aposentado em Economia e Política da Educação na Universidade Federal Fluminense (UFF), considera que os currículos devem ser mais clássicos, com “um conhecimento que em sua base serve pro seu diverso”. A especialização deve ser foco dos cursos subsequentes e superiores.

Por isso, ele defende que os currículos da educação profissional devem prever uma formação ampla, com temas como cultura, que permitam ao estudante entender e interpretar melhor a sociedade. “Cultura você não aprende pela física e pela química – importantíssimas –, aprende pelo romance, pelo cinema e pela arte. É dar os fundamentos que perpassam todos os campos de conhecimento, da ciência, que hoje estão em todos os campos. Uma educação que leve em conta a base.”


A palestra na íntegra está no canal da IFSCTV no YouTube

A avaliação do filósofo e pedagogo sobre o contexto atual é de que a sociedade capitalista conseguiu avançar na produção de tecnologia, mas não na resolução de problemas sociais. Citou como exemplo a produção de alimentos, que é suficiente para abastecer toda a humanidade, mas isso não impede que pessoas morram de fome. A pobreza, para ele, é a causa da baixa escolaridade – e não o contrário. “Os pobres são pobres porque têm pouca escolaridade ou têm pouca escolaridade porque são pobres? Têm pouca escolaridade porque são pobres. E se a gente inverte, não analisa o mundo.”

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Para mudar esse panorama, Frigotto defendeu a realização no Brasil de reformas de base, “que as revoluções burguesas clássicas fizeram e que ainda não fizemos”, como ter escola pública para todos e instituições sólidas. A falta dessas reformas, segundo ele, dificulta o avanço da sociedade, que não consegue superar o que chama de “pontos de não-retorno” ao estágio anterior. “É preciso fazer um projeto além do desenvolvimento: é preciso confrontar a dominação, os interesses, as estruturas que estão postas.”

Gaudêncio Frigotto é graduado e bacharel em Filosofia, graduado em Pedagogia, mestre em Administração de Sistemas Educacionais e doutor em Educação. Além de professor da Uerj e aposentado pela UFF, é pesquisador Al-Sênior do Conselho Nacional de Pesquisa Científica e Tecnológica (CNPq).

A palestra foi uma promoção conjunta da Reitoria, do Centro de Referência em Formação e Ensino a Distância, do Câmpus Florianópolis e da comissão responsável pelo projeto de especialização (Lato Sensu) em Educação Profissional, Científica e Tecnológica.

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