Do turista digital a cidades sustentáveis: experiências do Brasil e Espanha

28. abril 2015 | Escrito por | Categoria: Eventos, Matérias, Reitoria

palestrantesComeçou hoje (28) o Iº Seminário Brasil – Espanha de Inovação Tecnológica em Turismo, no Auditório da Reitoria do IFSC. Especialistas dos dois países estão reunidos para trocar experiências sobre tendências do turismo, cidades humanas e sustentáveis e smart destinations.

Já na abertura do evento, a secretária de Turismo de Florianópolis, Zena Becker, demonstrou a importância do setor turístico para Santa Catarina por meio de números. Segundo ela, o setor correponde a 15% do Produto Interno Bruto (PIB) de Santa Catarina e 9% do mundial.

O primeiro palestrante do evento foi Antonio López de Avila Muñoz, presidente da Sociedad Estatal para la Gestión de la Innovación y las Tecnologías Turísticas S.A. (Segittur), da Espanha. Ele falou, por videoconferência, sobre a experiência espanhola em aliar turismo à tecnologia e inovação. A Segitur, uma estatal ligada ao Ministério da Indústria, Energia e Turismo daquele país atua no desenvolvimento de novas tecnologias, internacionalização do turismo, promoção da inovação e o fomento ao empreendedorismo.

Ávila contou que o setor turístico da Espanha começou a se desenvolver nos anos 50, quando o país recebia em torno de 1 milhão de visitantes por ano. Em 2014, o número chegou a 64 milhões, colocando-o em terceiro lugar no ranking mundial de destinos turísticos. Para ele, “a natureza preservada e o patrimônio cultural protegido já não são suficientes. É preciso utilizar a tecnologia para passar de um destino maduro para um destino inteligente”.

avilaUm destino turístico inteligente, o smart destination, é um local que oferecesse propostas inovadoras, com infraestrutura tecnológica, além de promover o incremento na qualidade de vida dos residentes locais, primando pelo desenvolvimento sustentável. Outro aspecto importante é a acessibilidade, tanto para para pessoas com mais de 65 anos quanto para aqueles com alguma dificuldade de mobilidade ou sensorial. Segundo o palestrante, hoje na Europa há cerca de 200 milhões de pessoas com alguma deficiência e que precisam ser atendidos pelos destinos turísticos, lembrando que estes visitantes nunca viajam sozinhos.

Ávila apresentou vários exemplos, como a oferta de wi-fi gratuito em todo território turístico que, além de proporcionar ao turista várias informações, serve também para obter dados anônimos para mapear os hábitos dos visitantes e os lugares por onde circulam, o que compram, onde se hospedam, como se divertem. “O turista quer uma experiência única, em suas mãos, no smartphone”, desta Ávila. Também apresentou o portal spain.info, no qual pequenas empresas e autônomos anunciam gratuitamente, juntamente com as informações turísticas gerais do país. Alcançando um total de 16 milhões de usuários ao ano.

Para que o smart destination se torne uma realidade, é preciso haver parceria entre o setor público e o privado. O setor público seria o responsável pela infraestrutura, a divulgação internacional e a promoção da acessibilidade. Já o setor privado investiria em transporte, acomodações, gastronomias e demais atrações turísticas. A partir dessas experiências, a Espanha conquistou um incremento de 7% no setor, sendo que nas pequenas cidades o percentual foi de 15%. “O turista dos smart destinations é hiperconectado, muito informado, multicanal e exigente”, completa Ávila.

Para o diretor da Knowtec Inteligência em Inovação, Neri dos Santos, é relevante conhecer a experiência de um país que está a frente do Brasil em termos de turismo. Ele acrescenta que os dados obtidos nos smart destinations podem ser utilizados como um “bem comum”, ou seja, disponibilizados para o planejamento de investimentos públicos e de negócios privados.

Outros exemplos de bem comum são espaços de troca de experiência e de convivência, que podem ser utilizados por todos. Cita como experiência bem sucedida em Florianópolis a rua Vidal Ramos, transformada em shopping aberto. Sobre o compartilhamento de recursos e informações, falou sobre o Observatório de Gastronomia, projeto a ser implantado também em Santa Catarina.

 

Cidades precisam ser inteligentes e sustentáveis

Aproveitar a experiência da Espanha com os smart destinations é possível em Florianópolis, segundo o professor Eduardo Moreira da Costa, professor do Departamento de Engenharia e Gestão do Conhecimento e Programa de Pós-Graduação em Engenharia e Gestão do Conhecimento – EGC/UFSC e diretor geral do Instituto LabCHIS (Cidades mais Humanas, Inteligentes e Sustentáveis) com bases na UFSC e no Rio de Janeiro. “Temos um pólo de inovação tecnológica aqui. Apesar disso, estamos na idade da pedra em termos de tecnologia e mobilidade. Temos muito que aprender com a Espanha. Acredito que a comunidade de Tecnologia da Informação que existe aqui poderia ser usada para promover essa mudança”.

Costa apresentou o conceito de cidades inteligentes e sustentáveis. Para ele, é importante que além de inteligentes, as cidades sejam humanas, ou seja, promovam a qualidade de vida não só para quem as visita, mas também para seus moradores.

O palestrante elencou alguns fatores que tornam uma cidade humana e inteligente, como a mobilidade urbana. Citou o exemplo de Paris, cidade projetada na época de Napoleão, em que cada bairro possui uma infraestrutura completa, para morar, trabalhar e ter lazer, com bom transporte coletivo entre os bairros.

CostaJá em vários países que se desenvolveram posteriormente, como o Brasil, o modelo adotado foi baseado no automóvel, distanciando os espaços de moradia, trabalho e diversão. “O resultado é que São Paulo, por exemplo, está à beira do caos urbano. Hoje a velocidade média de um carro lá é de 12 quilômetros por hora. Essa é a velocidade de uma charrete!”. Para ele, é preciso repensar o custo que o automóvel representa para a sociedade, como poluição do ar, construção de ruas e estradas, espaços públicos ocupados, como estacionamentos, e o custo social dos acidentes. Além disso, há o custo individual de manter um automóvel, que além do aspecto financeiro, envolve a perda de tempo e o aumento do stress dos motoristas.

No entanto, para que a melhoria de qualidade de vida nas cidades aconteça, destaca Eduardo, é preciso haver co-criação, ou seja, a participação de todos os envolvidos na resolução de problemas. Para isso, é importante que o poder público ouça as comunidades e suas necessidades. “Ter cidades inteligentes é fazer a pergunta: o que se deve fazer em benefício do cidadão?”, resume.

O Iº Seminário Brasil – Espanha de Inovação Tecnológica em Turismo continua nesta quarta-feira, no auditório da Reitoria do IFSC. Saiba mais sobre a programação do evento e palestrantes em www.destinosinteligentes.com.br.

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