Pesquisa do Câmpus Fpolis.-Continente traça o perfil do enoturista do Planalto Catarinense

29. fevereiro 2016 | Escrito por | Categoria: Câmpus Florianópolis-Continente, Matérias

O turista que visita as vinícolas do Planalto Catarinense tem pouco conhecimento sobre vinho, mas tem interesse em saber mais sobre a produção da bebida. Essa é a conclusão de uma pesquisa feita por professores e bolsistas do Câmpus Florianópolis-Continente do IFSC, que pode ajudar as vinícolas a aprimorar as visitas organizadas por elas. A pesquisa foi realizada entre dezembro de 2014 e julho de 2015 com 181 visitantes de oito vinícolas localizadas nas regiões de Caçador (no Meio-Oeste), Campos Novos e São Joaquim (ambas na Serra).

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Foto: Santa Catarina Turismo S/A (Santur)

A equipe de pesquisadores do IFSC, coordenada pelo professor Wilton Carlos Cordeiro, aplicou um questionário com visitantes das vinícolas. As informações solicitadas dividiam-se em dados demográficos do participante, relação dele com o vinho e a avaliação da experiência turística na vinícola. A pesquisa teve a participação da professora Flavia Baratieri Losso e dos bolsistas José Luiz Monteiro Mattos e Newton Kramer dos Santos Neto, todos do Câmpus Florianópolis-Continente.

Para caracterizar o perfil dos entrevistados, os pesquisadores usaram uma classificação proposta pelos britânicos Steve Charters e Jane Ali-Knight. Concluíram que o visitante das vinícolas do Planalto Catarinense são o que Charters e Ali-Knight chamam de wine interested (interessado em vinho), que tem como características pouca formação sobre o vinho e preferência por visitas mais instrutivas. “Ou seja, ele ou ela [o visitante] tem pouca relação com o vinho, mas aproveita a viagem para aprender mais”, comentam os pesquisadores em artigo apresentado no 5º Congresso Latino-Americano de Enoturismo, em setembro passado, em Montevidéu (Uruguai).

Essa conclusão é baseada em dados como os que mostram que 80% dos entrevistados não participam de nenhuma associação ou confraria de apreciadores de vinho, embora o mesmo percentual de respondentes tenha afirmado beber vinho. O motivo mais citado para a realização da visita à vinícola foi conhecer o processo de elaboração de vinhos (33%). “As vinícolas devem investir em mostrar didaticamente a produção do vinho, que é o que esse visitante quer conhecer”, recomenda Wilton.

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Foto: Santa Catarina Turismo S/A (Santur)

A região pesquisada tornou-se produtora dos chamados vinhos de altitude – com videiras cultivadas a mais de mil metros acima do nível do mar – a partir de 1999, com apoio da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri). Nessa época, empreendedores vindos de diferentes setores da economia passaram a investir na implantação de vinhedos e na construção de vinícolas. Em 2005, foi criada a Associação Catarinense de Produtores de Vinhos Finos de Altitude (Acavitis), que hoje conta com 28 produtores distribuídos nas regiões de Caçador, Campos Novos e São Joaquim.

Por causa de ser relativamente recente a produção de vinhos de altitude em Santa Catarina, ainda há pouca informação sobre como o consumidor de vinhos o percebe. Aliado a isso, ainda existem poucas pesquisas sobre o perfil do chamado enoturista. “Aqui no Brasil mesmo não há nada”, diz Wilton. A ideia da pesquisa surgiu dos próprios professores do câmpus e, uma vez que Wilton faz parte desde o ano passado de um grupo de trabalho do governo do Estado para desenvolver o enoturismo em Santa Catarina, novas pesquisas sobre o tema podem ser feitas pelo IFSC.

Catarinenses predominam entre os visitantes

O turista que visitou as vinícolas do Planalto Catarinense no período da pesquisa pode ser caracterizado como pessoa entre 31 e 40 anos, moradora do Planalto, casada, que atua como profissional liberal com formação em nível superior e que tem renda mensal entre dois e quatro salários mínimos.

Segundo a pesquisa, 43% dos visitantes das vinícolas do Planalto Catarinense são moradores de cidades de Santa Catarina, principalmente Meio-Oeste (32% do total de catarinenses que responderam ao questionário), Litoral (30%), Vale do Itajaí (18%) e Serra (11%). Entre os estados, na sequência vêm Paraná (18%) e São Paulo (11%). Apenas 4% dos participantes da pesquisa informaram morar no vizinho Rio Grande do Sul.

A presença significativa de pessoas do Meio-Oeste e Serra, além dos fatos de 64% dos respondentes ter informado que foram até a vinícola usando carro próprio e de 33% não terem se hospedado em estabelecimentos dessas regiões, por morarem ou terem familiares nesses locais, mostram que os moradores das regiões onde estão situadas as empresas pesquisadas têm peso importante no quantitativo de visitantes. Segundo Wilton, isso mostra que o enoturismo ainda é incipiente em Santa Catarina, se comparado a outras regiões do país e do mundo.

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Foto: Santa Catarina Turismo S/A (Santur)

“Se você for a Mendoza [na Argentina, conhecida mundialmente pela produção de vinhos], vai ver que a maioria dos turistas lá são alemães, americanos e brasileiros. São poucos argentinos. Aqui ainda predominam os moradores locais”, afirma o professor do IFSC. Os pesquisadores destacam no artigo apresentado no Uruguai que há necessidade de divulgar, além das vinícolas, “a cultura e as belezas naturais do Planalto Catarinense aos turistas de outros estados brasileiros e do exterior, pois a região tem potencial para isso”.

A permanência dos visitantes na região oscilou entre um e três dias, com uma tendência maior para três dias, o que leva a crer que são viagens realizadas nos fins de semana, de acordo com os pesquisadores.

No total, 72% dos visitantes compraram algum produto durante a visitação, enquanto 13% não o fez – outros 15% não responderam a esta pergunta. Entre os que compraram, 30% gastaram entre R$ 100 e R$ 300; 21% gastaram menos de R$ 100; 14% mais de R$ 300; e 34% não quiseram responder quanto gastaram. Comparando a média gasta em compras com o rendimento mensal, o enoturista que visitou as vinícolas do Planalto Catarinense gastou perto de 7% de seu salário em produtos.

Turistas avaliam positivamente a visita

Os entrevistados avaliaram as vinícolas quanto a acesso, sinalização, recepção, guiamento, degustação, ponto de venda e outros serviços. Os quesitos acesso e sinalização obtiveram os índices mais baixos. Já a recepção, o guiamento e a degustação receberam as avaliações mais positivas, sendo considerados excelentes por 63%, 65% e 63% dos entrevistados, respectivamente.

A maioria dos entrevistados (94%) afirmou que vai recomendar a visita a seus conhecidos. Quatro fatores foram apontados para essa afirmação: a beleza da região, o atendimento, a qualidade dos produtos e os conhecimentos adquiridos durante a visita. “Os relatos entusiasmados demonstram o sucesso da atividade turística nas vinícolas. Conhecer os pormenores do processo de elaboração do vinho foi o que mais fascinou os visitantes”, dizem os pesquisadores. Fora das vinícolas, a precariedade das estradas foi o ponto negativo mais citado pelos enoturistas.

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