Explicando a Extensão: Curricularização no IFSC é exemplo para a Rede

15. dezembro 2021 | Escrito por | Categoria: Matérias

Em 2018, a Resolução 07 do Conselho Nacional de Educação (CNE) definiu as bases para a curricularização da Extensão em cursos de graduação em todo o país. O documento define que 10% da carga horária total dos cursos de graduação no Brasil deveria ser dedicada a atividades de Extensão, com previsão nos Projetos Pedagógicos de Cursos (PPCs). O prazo inicial para o cumprimento da meta era 2021, porém, em 2020, devido à pandemia de Covid-19, o prazo foi prorrogado até dezembro de 2022.

Atualmente, o IFSC tem 26 cursos de graduação (tecnologia, bacharelado e licenciatura) com a Extensão presente nos PPCs, o que representa 44% do total dos 59 cursos superiores ofertados pelo IFSC. Esse número pode parecer pouco, mas é uma média alta se comparada aos demais institutos federais. Segundo o ex-diretor de Extensão, Tomé de Pádua Frutuoso, o processo de curricularização no IFSC está mais avançado pois iniciou ainda em 2015, com a publicação do Plano Nacional de Educação em 2014, enquanto a maioria dos demais IFs iniciou em 2018, com a Resolução 07 do CNE.

Assim, a Resolução do IFSC serviu de base para resoluções de vários outros institutos, inclusive para a do Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), publicada em 2020. “Por mais que não tenhamos 100% dos cursos curricularizados, somos referência por trabalhar com isso há mais tempo, por trabalhar com mais rigor e ter um modelo que funcionou”, explica Tomé.

A atual diretora de Extensão, a professora Milena de Mesquita Brandão, explica que o sucesso da curricularização da Extensão depende da sua indissociabilidade com o ensino e a pesquisa, por isso a busca por ações articuladas com as demais pró-reitorias.

Milena acredita que a participação ativa dos estudantes contribui diretamente para o sucesso nas atividades de extensão. Neste sentido, entende que para fortalecer a efetivação da extensão curricularizada, é necessário fomentar o protagonismo dos estudantes. Em 2021, houve edital específico para apoiar propostas de extensão elaboradas pelos estudantes, como forma de aumentar seu envolvimento na Extensão, de modo geral. Por meio do edital, os estudantes podem apresentar projetos de Extensão a serem executados sob a orientação de professores e/ou servidores técnico-administrativos do IFSC e com recebimento de bolsa.

Para 2022, serão realizadas novas capacitações sobre curricularização. As oficinas serão divididas em 13 subáreas, reunindo cursos de áreas afins. Durante a oficina, os Núcleos Docentes Estruturantes (NDEs) serão desafiados a planejar uma proposta de intervenção extensionista, considerando as demandas da sua região e sua área de atuação, relacionando a unidades curriculares que já são ofertadas. Segundo Milena, esse exercício será feito em grupo e a troca de experiências poderá proporcionar a criação de novas propostas de extensão, favorecendo a identificação de qual Unidade Curricular tem mais ligação com a prática extensionista.

Extensão como um direito

Tomé estudou a curricularização da Extensão em sua dissertação no Mestrado Profissional em Educação Profissional e Tecnológica em Rede Nacional – ProfEPT, concluído em 2020. “Falo muito sobre a importância da Extensão na formação das pessoas. A Constituição traz a Extensão como indissociável ao ensino e a pesquisa. Então, se a educação é um direito, a Extensão também é um direito das pessoas que fazem ensino superior”, destaca.

Ele também analisou, em seu trabalho, os erros e acertos do IFSC na curricularização, especialmente por ser um dos IFs pioneiros. Acredita que o número de cursos com a Extensão no currículo poderia ser maior, porém, o IFSC conta apenas aqueles que estão realmente funcionando e têm uma boa avaliação.

Em sua produção acadêmica, Tomé reflete sobre o conceito de indissociabilidade: “Pode-se inferir que a indissociabilidade se concretiza quando a Pesquisa encontra meios teóricos e científicos para a resolução de um problema, essa resolução é trazida pelo Ensino, nos diversos ambientes de aprendizagem e, posterior/concomitantemente, é aplicada em forma de atividades de Extensão nos diversos setores da sociedade. Essa indissociabilidade pode proporcionar a interação dialógica entre a instituição de ensino e os setores da sociedade e, também, pode produzir um impacto na formação discente e um impacto e transformação social”. Acesse o artigo completo sobre o tema publicado em 2020.

A participação em eventos sobre curricularização da Extensão tem sido uma constante para as equipes da Diretoria de Extensão. Alguns dos eventos com a participação do IFSC:

Gestão do Turismo é exemplo bem sucedido de curricularização

O curso superior de tecnologia em Gestão de Turismo é um bom exemplo de como a curricularização da Extensão pode dar certo. O curso, com duração de três anos, formou a primeira turma no IFSC nesse formato em 2021 e a avaliação é bastante positiva.

O curso tem 1,8 mil horas, sendo 180 previstas para atividades de Extensão. A coordenadora, professora Fabiana Calçada de Lamare Leite, explica que a Extensão está no currículo em dois momentos: na segunda fase, os alunos têm uma disciplina de 60 horas que aborda a introdução à extensão, com palestras e atividades voltadas ao saber extensionista, elaboração e implantação de um projeto inicial. Nas demais fases, o aluno tem a oportunidade de usar as 120 horas restantes para participar de projetos já existentes ou mesmo submeter alguma ideia por meio do Protagonismo Discente.

A diretora de Extensão, Milena de Mesquita Brandão, destaca a integração da Extensão em todas as ações do curso. “Funcionou muito bem porque a coordenação do curso e os docentes trabalham de forma articulada e fazem os estudantes participarem ativamente. É um curso que trabalha tudo de forma muito integrada, e por isso alcançou tanto sucesso”. Fabiana completa que, antes da curricularização, a atividades de Extensão no curso eram realizadas de forma esporádica e desarticulada, de acordo com iniciativas isoladas dos professores. Hoje ela vê uma qualificação maior e mais diversificação de ações extensionistas.

Com a pandemia, a realização de atividades de Extensão ganhou um formato diferente: a conta do curso no Instagram (gestaoturismo@ifsc), criada para promover a interação entre os estudantes e a coordenação, acabou virando um projeto de Extensão que já teve a participação de cerca de 20 estudantes. Além disso, foi criado o podcast Gesturcast e transmissões ao vivo como seminários, debates e materiais diversos relacionados à temática do turismo, servindo de referência de pesquisa e proporcionando aos estudantes desenvolverem habilidades variadas, como pesquisa, redação, produção de conteúdo, utilização de ferramentas tecnológicas, entre outras.

Assim, os estudantes vão aderindo aos projetos e acrescentando ideias, como por exemplo o projeto de acessibilidade, elaborado por duas alunas que se propuseram a realizar a descrição dos posts do Instagram para deficientes visuais. “Hoje vemos que essa adaptação para um projeto virtual foi muito positiva para integrar a turma, gerar conhecimento, e estamos vendo que está sendo uma entrega boa. Estamos mantendo contato com professores e alunos de outras instituições também e participando de cursos e eventos”, destaca a professora Fabiana.

A ideia agora é integrar atividades presenciais ao que já foi desenvolvido nas mídias sociais, como trabalhar com o turismo rural de base comunitária. A parceria com vários professores é essencial para desenvolvimento do projeto, segundo a coordenadora. “A cada semestre a gente está qualificando mais esse processo e aprendendo mais como encaixar a Extensão dentro do curso, a entender melhor o que é a Extensão”, completa.

Saiba mais sobre o processo de curricularização da Extensão na página da Extensão no Portal do IFSC.

Por Carla Algeri | Jornalista do IFSC

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